Inquietação

Um huis-clos conjugal que explora atentamente o mal-estar e a angústia do mundo moderno.

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Tem-se falado, com alguma razão, de Roman Polanski a propósito da quarta longa do italiano Saverio Costanzo – Corações Inquietos é um huis-clos conjugal praticamente fechado num apartamento nova-iorquino, sobre um casal que uma gravidez inesperada faz bascular na loucura.

É inevitável pensar na Semente do Diabo ou no Inquilino, mas não é descabido ir também buscar o Seguro de Todd Haynes, no modo como Mina (Alba Rohrwacher) invoca uma qualquer necessidade de manter o seu bebé recém-nascido “protegido” das doenças do mundo moderno urbano. Esse desfasamento entre o mundo “lá fora” e as pessoas “cá dentro” é o tema recorrente da obra do cineasta, observador do mal-estar, da inquietação, da angústia, do não-alinhamento de gente frágil. E percebe-se, agora, que A Solidão dos Números Primos (2010), o seu único filme estreado entre nós até hoje, era uma espécie de “ensaio” para este novo filme, ambíguo e desconfortável, cuja imprevisibilidade narrativa que “agarra” o espectador parece erguer-se organicamente da sua trama e da entrega dos seus actores.

 

 

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