A mulher invisível

Uma comédia negra e seca, quase desacelerada, filmada em sumptuosos dioramas formais.

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Depois do magnífico Lourdes (2009), a austríaca Jessica Hausner dirige o seu olhar clínico, metodicamente rigoroso, para um caso verídico de um duplo suicídio na Alemanha do século XIX.

Mas o que lhe interessa é menos a veracidade dos factos (que envolveram o escritor romântico Heinrich von Kleist e uma sua conhecida social, Henriette Vogel) e mais o que esta história revela do abismo entre o tecido social e a personalidade humana. Espécie de comédia negra desacelerada até toda a tensão ficar rigorosamente subterrânea, filmada em dioramas requintadamente meticulosos onde o jogo de focagem da câmara cria uma deslumbrante ilusão de relevo, Amor Louco podia ser um reality show literário sobre uma mulher invisível que, arrastada pelos charmes de um romântico mórbido, escolhe a morte como modo de se tornar visível, mas sem ter consciência do que isso implica verdadeiramente. Desesperado e escarninho, é um filme menos “aberto” que Lourdes, mas que fica a ressoar cá dentro por muito tempo. 

 

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