Reabertura do LHC adiada por curto-circuito

A grande máquina que permitiu descobrir o bosão de Higgs, em 2012, esteve fechada dois anos, para manutenção e renovação, e seria reaberta nesta quarta-feira.

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O túnel onde está instalado o acelerador de partículas LHC DENIS BALIBOUSE/Reuters

Os cientistas do Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN), em Genebra, tiveram de adiar a reabertura do acelerador LHC (Large Hadron Collider), esperada para esta quarta-feira, depois de dois anos de obras de manutenção e renovação do enorme aparelho que faz colidir protões num túnel subterrâneo entre a França e a Suíça. Este atraso deve-se a um curto-circuito num dos magnetos principais, que ainda demorará algum tempo a ser resolvido, soube-se nesta terça-feira.

“As indicações sugerem que haverá um atraso [da reabertura] entre alguns dias a várias semanas”, lê-se num comunicado do CERN divulgado nesta terça-feira. O curto-circuito foi identificado a 21 de Março, ou seja, no último sábado.

Os engenheiros esperavam, já nesta quarta-feira, começar a lançar protões nos tubos subterrâneos que formam a circunferência de 27 quilómetros do LHC, fechados desde 2013. Nestes tubos, os protões são lançados em sentidos opostos para colidirem uns contra outros, tudo a altas energias. Destas colisões surgem novas partículas, que são detectadas por sensores e analisadas pelos cientistas. A remodelação que o LHC sofreu faria com que, já em Maio, as colisões ocorressem com cerca de o dobro da energia do que o período de funcionamento entre 2010 e 2013.

A colisão de partículas dentro dos tubos do LHC foi pensada para imitar as condições que existiam logo após o Big Bang, no início do Universo, há 13.800 milhões de anos. Em 2012, os cientistas do CERN anunciaram a descoberta de uma nova partícula subatómica, um elemento básico do Universo proposto há meio século pelo físico teórico Peter Higgs e por colegas: o agora famoso bosão de Higgs.

Com as futuras colisões, mais potentes, os cientistas esperam romper com o Modelo-Padrão, actualmente a melhor descrição das partículas elementares e das forças entre elas, entrando assim numa e “nova física”. Um dos esforços nesta fase que vem aí é tentar investigar a natureza da matéria escura e da energia escura, que juntas constituem 96% do Universo (os 4% restantes correspondem à matéria que conhecemos, os átomos que formam as estrelas, os planetas e as pessoas). No entanto, a matéria e a energia escuras só são detectadas pela influência que têm no resto da matéria.

Um certo desapontamento
Os cientistas do CERN mostraram-se desapontados pelo problema de última hora que surgiu num dos oito sectores do LHC. A máquina recebeu cabos novos durante estes dois anos de manutenção, que foram sujeitos a profundas verificações. Mas algo falhou.

“Todos os sinais são positivos para uma grande fase 2”, disse Rolf Heuer, director-geral do CERN, desvalorizando o sucedido. “No grande esquema das coisas, algumas semanas de atraso na busca da humanidade para compreender o Universo é pouco mais do que a duração de um piscar de olhos.”

O LHC já tinha sofrido um atraso de dois anos na sua abertura, após uma explosão em 2008, causada pela fuga e acumulação indevida de hélio dentro de um tubo de vácuo. Por se recordarem tão bem deste grave imprevisto, os cientistas e os engenheiros do CERN têm insistido que não pode haver pressas no recomeço das experiências.

O director dos aceleradores, Frederick Bordry, disse que poderá demorar resolver aquilo a que chama um “curto-circuito intermitente”. Como o problema ocorreu numa parte fria da máquina, para a arranjar provavelmente vai ser necessário aquecê-la primeiro e, depois, voltar a arrefecê-la. “Aquilo que demoraria algumas horas numa máquina [que trabalha] quente, pode acabar por demorar algumas semanas.”

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