Uma segunda ronda pelo Porto, a partir dos seus objectos

Segundo Ciclo de "Um objecto e os seus discursos" começa sábado, em torno do Coração de D. Pedro IV, na Igreja da Lapa.

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O ciclo de 2015 abre este sábado com uma conversa em torno do Coração de D. Pedro IV, na Lapa Maria João Gala
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A 16 de Maio a conversa será em torno da espada de D. Afonso Henriques, no Museu Militar DR
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A 23 de Maio a sessão decorrerá no jardim da Casa da Prelada DR
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As gnaisses da Foz estarão em destaque na sessão de 25 de Julho Adriano Miranda
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A primeira taça dos campeões ganha pelo FCP é tema da conversa marcada para 10 de Outubro. Fernando Veludo/NFactos

É de coração aberto que o Porto retoma o ciclo semanal “Um objecto e seus discursos”, inaugurado no ano passado pelo pelouro da Cultura. Depois de nos ter posto a olhar a cidade a partir de dezenas de peças “escondidas” em vários edifícios e serviços municipais, o pelouro do vereador Paulo Cunha e Silva abre esta segunda edição com uma conversa em volta do coração de D. Pedro IV, na Igreja da Lapa, onde a relíquia está guardada.

Paulo Cunha e Silva anda a pôr em alvoroço meia cidade. No ano passado “obrigou” técnicos e responsáveis por vários organismos municipais a tirarem o pó a dezenas de peças, algumas escondidas nas reservas, e chamou mais de 60 personalidades para discorrerem à volta de objectos tão estranhos como um espartilho do século XIX, um violoncelo Montagna que pertenceu a Guilhermina Suggia, ou em torno da  vista da cidade a partir dos Paços do Concelho, com a qual estreou este ciclo.

Agora, na segunda edição, o vereador da Cultura entrou também pela porta de outras instituições adentro para montar um programa que revela mais tesouros espalhados pela cidade, como é o caso da Venerável Ordem da Lapa, em cuja igreja se guarda o coração que o rei D. Pedro IV ofereceu à cidade em gratidão pela sua resistência durante o Cerco do Porto.

Sobre este "objecto", os factos históricos serão com certeza bem explicados pelo historiador Francisco Ribeiro da Silva. Mas a mais-valia destas sessões, como assume Paulo Cunha Silva, é a relação que ali se estabelece entre duplas de convidados pouco óbvias, como acontece neste regresso do ciclo, com o convite ao psiquiatra Júlio Machado Vaz, especialista noutros “assuntos do coração”. O moderador é o próprio presidente da Câmara, guardião das chaves do cofre onde está guardada a relíquia, reaberto em Janeiro para as filmagens de O sentido da Vida, de Miguel Gonçalves Mendes.

No ano passado, cerca de 2500 pessoas passaram pelas 33 sessões realizadas, muitas das quais com passe (20 euros), para participar em todas as conversas. Confiante no valor deste ciclo - que pode ser “infinito”, assinala – Paulo Cunha Silva está já a pensar, com a sua equipa, na terceira edição, durante a qual pretende organizar sessões em espaços comerciais, para discorrer à volta de um prato de tripas, por exemplo, e até em algumas casas de particulares.

Mas isso será apenas em 2016. Antes disso, e até Dezembro, quem se interessa por esta forma alternativa de conhecer o Porto a partir de um objecto, de um espaço, de quem cuida deles, e de dezenas de pares de convidados tem um programa intenso pelo caminho. Que começa numa igreja e acaba no Coliseu, em Dezembro, à volta das palavras de Pedro Abrunhosa, que se acorrentou à porta deste edifício para impedir que ele se tornasse, também, numa igreja, e de Edgar Pêra, que realizou um documentário sobre a obra do arquitecto Cassiano Branco.

Este ano vamos ouvir o paleontólogo Galopim de Carvalho falar das pedras – gnaisses, com 600 milhões de anos – da praia da Foz, ver de perto, em Outubro, a primeira Taça dos Campeões que o Futebol Clube do Porto ganhou em 1987 (com João Pinto, o defesa que não a queria largar, naquele 27 de Maio de 1987 e o músico e portista  Miguel Guedes), e explorar o Pavilhão Rosa Mota, com a própria atleta que lhe dá o nome e o seu arquitecto, Carlos Loureiro.

Esta, como outras sessões pensadas para Setembro, no Palácio de Cristal, coincidem com a Feira do Livro do Porto, e nelas vamos poder explorar os jardins ou ler, na biblioteca, uma rara edição quinhentista de As revoluções das Orbes Celestes, de Copérnico. Paulo Cunha e Silva explica que as sessões de 2014 lhe deram a conhecer a Casa Oficina António Carneiro, onde nunca tinha entrado, mas, assume, foi na biblioteca municipal que percebeu a existência de “tesouros fantásticos”, como uma obra, a Fábrica do Corpo humano, de Andreas Versalius (1543), que já conhecia bem, enquanto professor de Anatomia, mas da qual nunca tinha visto tão antiga edição.   

É este efeito de surpresa, de descoberta de uma cidade "aberta ao mundo", a cada momento da sua história, que este ciclo propõe. Em 2015 ficaremos também a saber, no Museu da Fundação Cupertino de Miranda, de uma nota de cinco escudos que nunca chegou a entrar em circulação, e vamos poder apreciar de perto a espada que terá sido de D. Afonso Henriques, e que está guardada no Museu Militar do Porto. O programa completo estará disponível, a partir desta quinta-feira, no site da Câmara do Porto.

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