Mulheres em minoria na liderança: algo está mal

Se ainda é notícia uma mulher ser nomeada para um cargo de liderança, então algo está mal.

No momento de um gestor escolher um alto cargo lembra-se invariavelmente de um homem! Testemunho congresso atrás de congresso, onde somos galardoados por orador atrás de orador masculino, reunião atrás de reunião, onde mesmo nos sectores, de longe maioritariamente femininos, como no meu, raramente se encontra um líder feminino. Algo está mal.

Já foram realizados vários estudos sobre o facto de nos países considerados desenvolvidos a percentagem de mulheres empresárias ser inferior à dos homens. Apesar de atualmente as mulheres representarem cerca de 40% da população ativa no mundo ocidental, continuam a ser uma minoria nas posições de gestão de topo. No entanto, baseio a minha visão no resultado de 27 anos de trabalho direto com mulheres no mundo dos negócios, empresárias em vários setores de atividade. O sexo feminino é por natureza mais prático, mas arrisca menos!

Esta postura deriva muito da falta de apoio e incentivo a nível social, familiar e também do setor financeiro para com a mulher. Eu própria enquanto empresária senti esta dificuldade. Um outro fator que faz com que a percentagem de mulheres empresárias seja menor prende-se com o simples facto de que a experiência que se adquire na gestão das grandes empresas é uma importante forma de nos preparamos para sermos empresários – e esses cargos são ainda muitas vezes vedados a mulheres, que assim não podem adquirir essa competência que lhes permitiria depois dar o salto para o seu negócio.

O desafio da maternidade é ainda relevante nesta matéria. A perceção social de que é à mulher que cabe a tarefa de cuidar dos filhos, da casa, do casamento, dos idosos, retira a muitas a coragem para avançar com projetos próprios. Há ainda este preconceito e a discriminação ainda existe! A dicotomia família/carreira e os estereótipos de género (mais do que nos seus pares do sexo masculino) são uma fonte de stress e barreira para a aventura que é gerir uma empresa.

Existem, contudo, exceções a esta realidade, mas há que reter o facto de que ainda é notícia o facto de uma mulher ser nomeada ou eleita para um cargo de gestão ou liderança – o que nos indica que algo está errado. Atualmente o que se passa é que encontramos tantos homens como mulheres nos quadros médios das direções das empresas, mas não quando subimos na hierarquia. O top continua a ser muito “masculinizado”! Exceção no ramo alimentar e no comércio, onde o sexo feminino é mais facilmente aceite. 

Portugal tem uma população ativa de 5,5 milhões, dos quais 47% são mulheres. Enquanto em 89% das empresas há homens na gestão, só em 55% há mulheres. Este é talvez o indicador de maior desequilíbrio: quando 47% dos trabalhadores são mulheres, não deveria haver uma representação feminina na gestão equivalente? As mulheres ocupam 31,1% das funções de gestão e direção e lideram 26,8% das empresas portuguesas. É nas empresas jovens (com menos de cinco anos) que a presença feminina, na gestão e liderança, é maior e é nas grandes empresas que a mesma presença é menor. Há uma relação direta entre a participação feminina na gestão e a liderança feminina: quanto maior é a participação na gestão, maior é a liderança feminina. Em dois anos, a liderança feminina dos conselhos de administração passou de 12,2% para 14,4%. O caminho a percorrer até ao equilíbrio de género na liderança dos conselhos de administração adivinha-se muito longo!

O que existe em Portugal é um machismo psicológico e social... paternalismo... uma atitude soft e carinhosa que, não obstante as leis e as regulamentações, continua a prejudicar a liderança no feminino. Formas subtis de discriminação continuam a limitar, com eficácia, as promoções das mulheres, funcionando como barreiras invisíveis.

Mas as mulheres estão a criar um novo paradigma de gestão e de liderança! As mulheres estão hoje a ter um papel central na reconstrução da economia e da classe média. Empresas detidas por mulheres representam um dos segmentos que mais estão a crescer na economia a nível mundial – mesmo com todas as dificuldades já referidas. São as mulheres que estão a alavancar a economia. A paridade entre mulheres e homens não é, nem pode ser, apenas um objetivo em si mesmo.

Outro desafio muito relevante e ao qual dou muita, mas mesmo muita importância é o networking. Ou a falta dele! As mulheres têm sido mantidas fora das redes maioritariamente dominadas pelos homens, quer como resultado de acumulação de responsabilidades familiares, quer simplesmente devido a atitudes e receios de percepção social. E aqui culpo também muito as próprias mulheres que ainda aceitam este estigma e muitas vezes também o “usam” como desculpa. Há muito que os homens têm a tradição de serem associativos, pertencer a redes, a clubes de negócios, de desporto, onde debatem assuntos de trabalho e negócios. Nestes grupos apoiam-se e criam redes de contactos e de influência. As mulheres há muito que passam ao lado destas redes de “old boys network” e reuniões informais, que são tão instrumentais e fundamentais na criação de reputação e marca pessoal. Eu própria declaro frequentemente que devo tudo o que tenho, e que sou hoje, às redes associativas, que sempre valorizei e nas quais investi toda a minha vida. O networking oferece valor adicional ao aumentar o fluxo de informação e conhecimento como meio de acesso e familiarização com a cultura dos negócios e dos mercados. Daí eu dizer que a atitude é 50%. E porque é ainda hoje o networking uma ferramenta no masculino?

Representante da WOW Conference em Portugal

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