Viva o presente

Os livros agora vão para quem precisa deles. Dantes nunca foi assim.

A melhor carta da semana foi escrita por Salley Vickers e publicada no último New Statesman. Conta uma história que, tal como as melhores histórias, é inverificável por ser forreta e omissa com as fontes.

Salley Vickers reproduz uma história que lhe contou Richard Reiss - um amigo que já morreu que pertenceu a uma das melhores universidades dos EUA - acerca dos livros roubados da biblioteca.

Apurou-se que a maioria de livros era roubada da secção de Filosofia e, mais especificamente, da parte dedicada à Ética. Comentou um dos mais ilustres professores de filosofia da universidade: "Pelo menos sabemos que os livros estão a ir para os leitores que mais precisam deles".

É uma visão animadora. Os estudantes de Ética são os mais ladrões de todos. Pode ser que precisem mais dos livros, não tanto por serem estudantes de Ética, mas por serem ladrões. Caso sejam - é possível - apenas ladrões interessados pela Ética também é possível que aquilo que lerem nos livros que roubaram os convençam a pensar mais nos outros que também precisam dos livros que roubaram ou, mais optimisticamente ainda, roubariam.

Roubar livros, tal como roubar pão e outros alimentos essenciais, é diferente de roubar coisas de que não precisamos e que não nos iluminam.

Roubar um livro - na Internet, por exemplo - é sempre uma prova de interesse pelo trabalho dos autores (apenas minimamente) roubados.

Os livros agora vão para quem precisa deles. Dantes nunca foi assim.

Sugerir correcção
Comentar