Conversa de biltre

Era só acabar com os políticos, só acabar com os gatunos, os drogados, os traficantes, os arrumadores, os emigrantes e os doentinhos do Facebook, era tão fácil...

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Daniel Hoherd / Flickr

Isto é tudo a mesma corja. Por estas e outras é que este país não avança. Fascistas mas qual fascistas, nunca houve fascismo neste país. O que esta malta precisava era dum Salazar em cada esquina. O que estes gajos precisavam era de ditadura, cinto apertado e boca calada. Cambada de maricas... isto o problema foi abrirem as fronteiras, darem soltura às gajas, deixarem vir os retornados, fecharem a PIDE, darem o casamento aos pandulos, acabarem com a pena de morte. Isto só lá vai a tiro, isto só lá vai à bala, isto só lá vai com os candeeiros de rua cheios de gajos pendurados.

Seis meses de democracia suspensa só para arrumar a casa; só seis semanas sem parlamento, governo a funcionar por decreto, tribunais fechados e aquela assembleia de chulos em casa sem chatear; vá prontos só seis dias em que a polícia pudesse espancar e arrombar portas sem mandato, só para limpar as ruas, vá... seis horas de lei de talião, cada um agarra sua ripa, seu pé de cabra ou caçadeira se a tiver e vamos amolgar aquele vizinho vermelho, ou preto, ou que é capaz de ser pedófilo, ou que não paga o condomínio, ou que ouve a música demasiado alta demasiado tarde... vá lá, só seis horinhas e limpamos a nação.

Era só acabar com os políticos, só acabar com os gatunos, os drogados, os traficantes, os arrumadores, os emigrantes, os monhés, os comunas, a malta das barracas, os Rendimento Mínimo, os ecologistas, os desempregados que não querem trabalhar, as fufas feministas, os chulos, as putas, os mouros, aqueles anarcas nojentos que têm sempre um cão cheio de pulgas e se riem do nosso esforço, os jeovás de sábado de manhã, os putos dos skates e dos graffitis, os intelectualóides gordos e amaricados, os sidosos e a malta com ébola e legionela, os ganzados, os artistas, os poetas, os professores universitários, as miúdas com cabelo azul, qualquer um que não goste da Sô Dona Amália, os judeus e os árabes, os grevistas dos sindicatos, os recibos verdes mal-agradecidos, os chungosos da Casa dos Segredos, os amigos dos animais, os cromos que lêem banda-desenhada, a escória do call-center que liga à hora de jantar, os brasileiros, os donos de cães que não apanham o cagalhão, os ciclistas, a malta das praxes, das touradas e dos ranchos, os chineses das lojas dos 300, os doentes de doenças raras, os que não separam a reciclagem, os fumadores e os pinguços, os velhos que ainda não foram enfiados num “lar”, os animais que estacionam em cima do passeio, os benfiquistas, os sportinguistas, os portistas, os corruptos, as tricotadeiras e os doentinhos do Facebook, era tão fácil... era só acabar com essa gente e isto era um jardim à beira mar plantado.

A culpa é da gorda alemã, da dominatrix do FMI, do Varoufakis, dos cartoonistas do Charlie Hebdo, dos luso-descendentes que se alistaram para a Síria, do Costa que ou entra mosca ou sai asneira, das madamas da Ajuda de Berço, dos barbeiros hipsters do Bairro Alto que não deixam as gajas entrar, da Carmelinda do POUS, da Teresa Guilherme, da Sô Dona Fátima Lopes que até prova com a máquina da verdade que o Tónho não assaltou a capela, da outra Fátima que nos envenena as segundas e da filha da Felgueiras que faz outro tanto às sextas. A culpa é do 44 e do Carlos Alexandre, dos polícias que ficaram debaixo do comboio, dos ciganos (os ciganos têm sempre culpas no cartório!), a culpa é deles! Não minha... eu não tenho nada a ver com isto! A culpa de certeza que não é minha!

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