Guterres critica UE após afogamento de mais de 300 migrantes

Actuação da UE no Mediterrâneo julgada “insuficiente” pelo alto-comissário da ONU para os Refugiados.

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Guterres chegou ao ACNUR em Junho de 2005 Pierre Albouy/Reuters

A mais recente tragédia no mar Mediterrâneo, que terá feito mais de 300 vítimas na quarta-feira, já motivou uma reacção do alto-comissário da ONU para os Refugiados (ACNUR). Nesta quinta-feira, António Guterres apelou à União Europeia para estabelecer uma verdadeira operação de busca e salvamento, que permita evitar mais tragédias envolvendo imigrantes a caminho da Europa.

Guterres apontou baterias à operação Tritão, da agência europeia para o controlo das fronteiras, Frontex. Esta operação foi lançada a pedido das autoridades italianas para patrulhar o mar Mediterrâneo, depois de a Itália ter oficialmente posto fim à sua operação Mare Nostrum em Novembro do ano passado.

“Não pode haver dúvidas, depois dos eventos nesta semana, de que a operação europeia Tritão é um substituto infelizmente insuficiente para a Mare Nostrum”, declarou Guterres num comunicado.

A Tritão conta com a participação de mais de 20 Estados-membros, mas opera com um orçamento de apenas 2,9 milhões de euros por mês, menos de um terço do que a Itália disponibilizou para a Mare Nostrum. O seu mandato também é alvo de críticas. A operação italiana era claramente uma operação de salvamento e resgate de imigrantes, mas a Frontex tem como objectivo principal o controlo das fronteiras.

“A prioridade tem de ser salvar vidas. Precisamos de uma operação de busca e salvamento robusta no centro do Mediterrâneo, não apenas uma patrulha de fronteira,” disse Guterres, alertando que, caso contrário, “é inevitável que morra muito mais gente”.

A Mare Nostrum tinha sido lançada pelo Governo italiano, na altura liderado por Enrico Letta, após o afogamento de mais de 300 migrantes, na sua maioria eritreus, em Outubro de 2013. Resgatou cerca de cem mil imigrantes no Mediterrâneo em apenas um ano até o actual primeiro-ministro, Matteo Renzi, lhe pôr fim em Outubro de 2014.

Na quarta-feira, Letta, citado pela AFP, declarou que a operação Mare Nostrum deveria ser reactivada, mas Renzi atirou claramente as responsabilidades para a Europa.

“Pediremos à Europa para fazer mais”, disse o chefe de Governo italiano à televisão na quarta-feira à noite. “Não há só a Grécia e a Ucrânia, mas sim a Líbia, que está completamente fora de controlo há vários anos. Se queremos pôr fim a este cemitério no Mediterrâneo, a prioridade tem de ser resolver a situação na Líbia.”

Segundo as autoridades, chegaram 3528 imigrantes às costas italianas só neste mês de Janeiro, mais 40% do que no mesmo mês em 2014, que já tinha sido um ano recorde, com cerca de 170 mil chegadas.

Os países mediterrânicos como a Itália, mas também a Grécia, reclamam há muito um maior apoio da UE para controlar os fluxos migratórios. No entanto, os países do Norte têm resistido a tais apelos. O Reino Unido causou polémica o ano passado ao recusar participar na Tritão, alegando que mais operações de salvamento iriam “encorajar” mais migrantes a chegar.

O número de pessoas que arriscam embarcar na travessia para a Europa aumentou fortemente no ano passado. Ao todo, o ACNUR estima que 3500 pessoas tenham perdido a vida no Mediterrâneo, muitas tentando fugir dos conflitos na Síria, no Iraque e no Corno de África.
 


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