As massas

Melhor. Novo. Artista. São três coisas que Sam Smith jamais será.

Os Grammys são sempre uma desilusão, mesmo para os desiludidos. Os Grammys são comprados; seguem os números de vendas; são atribuídos por contabilistas interessados no negócio da música de merda.

Dão sempre, à maneira dos óscares, um ou dois prémios a músicos decentes, para fazer passar o critério lambe-lucros que preside a tudo.

Este ano, contudo, excederam-se. É verdade que conseguiram convencer um génio (Prince) a anunciar um prémio a um músico original e talentoso (Beck).

O maior vencedor dos Grammys (nos termos numéricos que sempre os animaram) foi Sam Smith, uma nulidade musical, histérica e emética, que foi considerado (como se a consideração fizesse parte do processo) o compositor e intérprete da melhor canção do ano (Stay With Me), incluído no álbum In The Lonely Hour que ficou (a sério) como melhor álbum pop de 2014. O próprio Sam Smith, um falsificador da voz que faz lembrar o Boy George a tentar cantar como um bebé constipado, ganhou o prémio de melhor novo artista.

Melhor. Novo. Artista. São três coisas que Sam Smith jamais será. Os maus artistas que arriscam e falham, por não terem talento, continuam a ser artistas, por terem arriscado.

Sam Smith é um sacarídeo que jogou pelo seguro. É um sentimentalão confissional que embaraça quem o ouve. Stay With Me é o Ne Me Quitte Pas para os que nunca ouviram falar de Jacques Brel ou de Scott Walker. É muita gente: cada vez mais gente ignorante, gananciosa e indiferente à arte da música.

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