Mafia sem mafia

J. C. Chandor dá um passo em falso com uma história de sonho americano que parece não saber o que quer.

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Cinecartaz: Trailer Um Ano Muito Violento

No papel, haveria muito para recomendar na terceira ficção de um dos mais interessantes jovens realizadores americanos, J. C. Chandor, já autor de O Dia Antes do Fim (2011) e Quando Tudo Está Perdido (2013).

É uma espécie de “herdeiro” moderno de um certo “cinema do meio”, adulto e inteligente, como o faziam Alan J. Pakula, Sidney Lumet, Elia Kazan ou Sydney Pollack, e Um Ano Muito Violento remete directamente para os anos 1970 e 1980, “anos de ouro” desse cinema liberal americano. Até na sua história que, ambientada numa invernal Nova Iorque de 1981, vê um ambicioso director de uma empresa de óleo industrial insistir em jogar limpo e respeitar os princípios morais do “sonho americano” quando à sua volta todos jogam sujo. Mas esta história do verdadeiro preço do sonho americano parece ter demasiada pose e muito pouco sumo: tudo está no seu sítio, desde as tonalidades frias da fotografia de Bradford Young à discrição rendilhada do trabalho de actores, mas falta ao guião uma direcção, uma ideia, um objectivo. Como se Chandor estivesse a fazer um “filme de mafia” sem mafia, se deixasse seduzir pelo ambiente e pela aparência e perdesse de vista o conteúdo, e nesse processo de subtracção Um Ano Muito Violento ficasse sem razão de ser. É um passo em falso na carreira do cineasta, mas pelo menos não é um passo atrás. 

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