O ano zero do fim do jardinismo

A eleição de Miguel Albuquerque para líder do PSD-Madeira pôs um ponto final na era de Alberto João.

Agora Alberto João Jardim não tem justificação nem pretexto para não cumprir o que anunciou no início de Dezembro: demitir-se do cargo de presidente do Governo Regional da Madeira a 12 de Janeiro de 2015. Isto porque, nas eleições internas do PSD-Madeira, em vez do candidato que lhe era afecto, Manuel António Correia (que teve só 35,9%), saiu vencedor (com 64,06% dos votos) Miguel Albuquerque, que desde há muito tem vindo a mostrar uma clara oposição ao eterno ocupante da Quinta Vígia. O mais curioso neste processo é que Jardim tenha sido afastado do seu pedestal pela oposição interna do seu próprio partido e não por pressões externas, do tão execrado continente ou de partidos adversários. É certo que a queda começou antes e que os resultados eleitorais mais recentes já anunciavam o fim do seu longínquo e musculado reinado. Mas foi preciso que no próprio PSD o apeassem, derrotando o seu “delfim” do momento, para que ele percebesse que o seu ciclo terminou. Porém, conhecendo Alberto João Jardim como se conhece, não é de pôr de parte que ele venha a tentar, nem que para isso tenha de formar um partido próprio (e se o fizer terá de ser nacional, pois a Constituição, no ponto 4 do artigo 51.º, proíbe a criação de partidos que “tenham índole ou âmbito regional”), reconquistar o cargo que em breve abandonará. Mas mesmo que o tente partirá para essa batalha semivencido. Primeiro pelos eleitores, que dele se foram afastando; depois pelos militantes do partido que durante décadas dirigiu. Quando Miguel Albuquerque diz que é preciso mudar atitudes num “partido mumificado, governamentalizado e prisioneiro dos interesses instalados”, não é preciso explicar do que se trata. Todos o sabem. E se Jardim alertou, sem sucesso, contra os “maus companheiros” que forças terríveis tentavam virar contra ele, o novo tempo que se avizinha diluirá as suas invectivas na bruma do esquecimento, regional e nacional.

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