Rendez-vous falhado com Noam Chomsky

A bricolage visual de Michel Gondry distrai mais do que complementa o pensamento do linguista.

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Trailer É Feliz o Homem Que é Alto?

O francês Michel Gondry pode ter assinado alguns dos mais notáveis telediscos da ainda curta história do género, mas no cinema corre o risco de ficar como cineasta de um só filme (a obra-prima O Despertar da Mente, 2004) pelo meio de uma série de experiências curiosas mas nem sempre conseguidas.

É Feliz o Homem que É Alto? é mais uma dessas experiências, e no papel uma das mais interessantes: um documentário que regista uma longa conversa de Gondry com o linguista e pensador americano Noam Chomsky, conversa essa que, em vez das habituais imagens de arquivo ou de entrevista, é inteiramente ilustrada por animações “caseirinhas” criadas pelo próprio realizador ao longo de dois anos.

O efeito da bricolage visual, marca registada do cinema de Gondry, assemelha-se a entrar na cabeça de Chomsky e tentar acompanhar a velocidade do que se passa lá por dentro – e o que à partida seria o grande trunfo do filme acaba por tornar-se rapidamente no seu maior problema. Em vez de a imagem complementar a conversa, o trabalho visual acaba por distrair do intrincado pensamento de Chomsky, criando um filme cujas duas pistas só muito pontualmente se cruzam como pretendido. É Feliz o Homem que É Alto? não deixa por isso de ser interessante, quer como “distilação” do linguista quer como exemplo da criatividade do cineasta, mas é uma espécie de rendez-vous falhado. <_o3a_p>

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