Feriados

A importância que hoje o PS e o CDS resolveram dar ao "1 de Dezembro" não se compreende.

A conspiração do “1 de Dezembro”, como sempre apropriadamente lhe chamaram, foi um movimento de uma pequena parte da grande nobreza indígena para pôr no trono o duque de Bragança, de resto um potentado da península que a Espanha temia por razões dinásticas. A altura era favorável: o conde-duque de Olivares tinha pedido a Portugal algum dinheiro e uns tantos soldados, na Catalunha as coisas não corriam bem para Madrid e havia em Portugal um descontentamento difuso. Mas ninguém se lembrou de ver naquilo o renascimento da Pátria; pelo menos, durante mais de 15 anos. A “guerra da independência” consolidou os Braganças, sem ter nunca criado uma verdadeira “identidade nacional”. A importância que hoje o PS e o CDS resolveram dar ao episódio não se compreende.

Durante a Monarquia Constitucional o feriado que sobre todos comemorava o regime era o “24 de Julho” de 1833, dia em que as tropas do duque da Terceira atravessaram o Tejo e tomaram Lisboa a D. Miguel. Na segunda metade do século, ninguém se lembrava do “1 de Dezembro” e os críticos do regime de Ramalho Ortigão aos republicanos desprezavam e ridicularizavam a “Sociedade 1º de Dezembro” (que não sei se ainda existe), como centro de propaganda da corte e dos Braganças. Só os criados se metiam nessa fantasia, que o grosso do país letrado não levava a sério. Os republicanos, logicamente, não continuaram os festejos da dinastia (agora no exílio) e os monárquicos para se poupar a maçadas também não. O próprio Salazar, embora restaurasse o feriado, nunca fez um alarido à volta do caso e deixou a “Sociedade” agonizar no Rossio com a maior indiferença.

A República escolheu para seu feriado o “5 de Outubro”, que o terrorismo do regime não permitia que fosse uma data nacional. E a Ditadura inventou o “10 de Junho”, sem raízes, nem conotações políticas desagradáveis, para se tornar dona e senhora do maior símbolo da “Raça e do Império”. O bom povo nunca espontaneamente participou nesta aberração. O “25 de Abril” adoptou o “25 de Abril” para celebrar a vitória do MFA, e não tocou na série de feriados já estabelecidos; ou nos feriados da Igreja; ou sequer nos santinhos regionais, que muitas vezes se juntam e continuam por semanas. Claro que a trapalhada vigente precisava de uma reforma radical. Mas com certeza que não merece no meio da miséria de Portugal uma única palavra.

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