A adopção e o desenvolvimento da criança

Quanto mais cedo a criança for adoptada maior a probabilidade de uma recuperação global do desenvolvimento mais rápida.

Os percursos de vida das crianças que se viram, por variadíssimas razões, privadas de cuidados adequados por parte das suas famílias biológicas têm sido foco de estudo desde há várias décadas. Fruto deste trabalho científico é hoje em dia parte do senso comum que as crianças necessitam de vínculos emocionais estáveis e protectores, tal como necessitam de alimento e escolaridade.

Estudos em psicobiologia têm sugerido que separações e perdas, cuidados insuficientes, negligência ou maus-tratos podem deixar marcas hormonais no sistema nervoso e dificultar o relacionamento com pessoas próximas, bem como aumentar a reactividade ao stress. O sistema nervoso do bebé está em desenvolvimento rápido e simultaneamente preparado para reagir negativamente às separações e ao stress, pelo que é provável que os eventos de vida modelem a estruturação do próprio sistema nervoso e condicionem alguns dos seus processos no futuro.

Avaliar estes efeitos requer a realização de estudos que meçam os níveis de neuro-hormonas produzidas pelo sistema nervoso, e simultaneamente avaliem os seus paralelismos comportamentais, fenómenos estes que estamos neste momento a analisar num estudo no ISPA-Instituto Universitário.

Estudos recentes têm demonstrado que a adopção é uma solução muito positiva, comparativamente a formas de cuidados tais como a institucionalização, na medida em que a adopção favorece a criação de vínculos emocionais estáveis entre a criança e os pais. Uma auditoria internacional feita recentemente a cerca de 300 estudos envolvendo mais de duzentas mil crianças concluiu que a adopção, tanto doméstica como internacional, contribuiu para que as crianças adoptadas tivessem um desenvolvimento muito superior às crianças que não foram adoptadas, ao nível do crescimento físico, do desenvolvimento emocional e do aproveitamento escolar. Estes efeitos positivos revelaram-se mais fortes nas crianças que foram adoptadas até ao primeiro ano de vida.

No entanto, um estudo anterior feito no ISPA-Instituto Universitário com crianças adoptadas entre os 0 e os 4 anos, demonstrou que a idade com que a criança é adoptada não é determinante quando se trata de estabelecer um vínculo emocional seguro com as mães. Neste estudo verificou-se que as crianças adoptadas conseguem estabelecer relações significativas de qualidade ao longo dos primeiros anos de vida e suportam a conclusão de que uma figura materna sensível pode promover uma boa relação.

Mas a investigação também mostra que mesmo em casos de adopção bem-sucedida existe uma tendência estatística para alguns problemas ao nível do desenvolvimento emocional. Existe por isso ainda muito trabalho a fazer no sentido de clarificar estas áreas e promover práticas de intervenção eficazes.

Assim, em resumo, aquilo que a Psicologia do desenvolvimento nos diz sobre a adopção é que ela tem demonstrado ser a solução mais positiva para crianças sem família, que quanto mais cedo a criança for adoptada maior a probabilidade de uma recuperação global do desenvolvimento mais rápida e que o estabelecimento de uma relação de qualidade com os pais, que envolve a sensibilidade e a preparação psicológica das mães e pais adoptivos, é o factor mais importante no estabelecimento de relações de qualidade com as crianças.

Investigadores em Psicologia  do Desenvolvimento no ISPA-Instituto Universitário

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