A ascensão dos privados e os dilemas do ensino público

Ao fim de 14 anos de publicação de rankings escolares e estando o PÚBLICO, agora, no terceiro ano consecutivo de uma colaboração (preciosa e pioneira) com uma equipa do Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa (Joaquim Azevedo e Conceição Portela), há um balanço claramente positivo. Não só é possível confirmar a utilidade dos rankings para a comunidade escolar no seu conjunto, como assinalar que os sucessivos aperfeiçoamentos que neles têm vindo a ser introduzidos (e neste campo foi decisiva a parceria já citada) permitem uma maior justiça na leitura dos resultados finais. Mesmo assim, persistem os entraves do costume: os dados que o Ministério da Educação dispõe continuam a ser incompletos, desfasados no tempo (os resultados dos exames são de 2013/14 mas os dados socioeconómicos são do ano anterior e apenas das escolas públicas) e agrupados de forma (por agrupamento e não por escola, quando os exames são por escola) a não permitir uma leitura rigorosa, como desde o início tem vindo a ser reclamado. No resto, em traços gerais, este é um ano em que se assiste a uma subida sem paralelo dos privados, ao mesmo tempo que se regista uma melhoria nos resultados das escolas públicas. Ou seja: estas viram subir nos exames as notas dos seus alunos (a sua média passou de 9,27 para 10,25 valores) enquanto, no mesmo período, os colégios privados registaram uma subida ligeiramente menor (de 10,73 para 11,64) mas a partir de um patamar mais alto, o que manteve a sua supremacia no ranking. Para isso terão contribuído factores como a estabilidade e motivação dos professores e o contexto socioeconómico das escolas e dos alunos. Mesmo assim, em contextos iguais há também resultados diferentes e isso tem a ver com esforço, boas práticas e recursos modelares usados nalgumas escolas para ultrapassar as dificuldades. A instabilidade contante no sector público não ajuda, decididamente, a uma melhoria e gera, como é público, descontentamento e insatisfação do quadro docente. Mas há também exemplos de professores e directores de escolas que, em conjugação com pais e alunos, procuram vencer adversidades e obter melhores resultados. Não para garantirem apenas uma presença efémera no quadro das “melhores” mas para assegurar que, das suas escolas, saem alunos mais bem preparados e melhores cidadãos. A partilha de conhecimentos entre escolas e professores, bem como o aperfeiçoamento dos métodos para combater o insucesso escolar e transformar o ensino em algo duradouramente útil, não para os exames mas para a vida, é já prática de muitos, para lá de qualquer ranking.

 

P.S.: No texto inicial escreveu-se, erradamente, que "os colégios privados registaram uma subida maior do que as escolas públicas, quando na verdade foi o contrário: 0,91 valores nos privados contra 0,98 nas escolas públicas. Aqui essa comparação foi rectificada, adequando-se o texto à correcção dos dados.

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