Prémio Stirling para um teatro para o homem comum, o melhor edifício do ano

“É verdadeiramente para todos os homens, mulheres e crianças. Resolve de forma inteligente tantos dos problemas que os arquitectos enfrentam todos os dias” diz o júri sobre o trabalho do atelier premiado.

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Fachada à noite Philip Vile
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A noite de estreia na abertura do teatro Brian Roberts
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Detalhe da fachada HaworthTompkins
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Camarins Philip Vile
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O auditório foi feito com 25 mil tijolos do antigo edifício Philip Vile
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O edifício localiza-se numa das mais importantes artérias da cidade Philip Vile
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Perspectiva do átrio Philip Vile
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As entradas de serviço do teatro Philip Vile

O teatro com uma fachada com néon e 105 imagens de corpo inteiro de homens e mulheres foi distinguido com o mais importante prémio de arquitectura britânico. O Everyman Theatre, em Liverpool, é um projecto do atelier Haworth Tompkins e foi quinta-feira considerado pelo Royal Institute of British Architects (RIBA) o melhor edifício do ano.

Tal como no ano passado o RIBA escolheu inesperadamente e pela primeira vez um projecto de recuperação, a escolha de 2014 é vista como “uma surpresa” pelo crítico de arquitectura do Guardian Oliver Wainwright. Agora na sua 19.ª edição, o Stirling já foi atribuído a David Chipperfield, duas vezes consecutivas a Zaha Hadid ou a Herzog & de Meuron, arquitectos do firmamento cintilante para o qual a profissão foi catapultada na última década. E este ano tinha na sua shortlist uma igualmente estrelada colecção de projectos candidatos ao prémio: o Shard de Renzo Piano, o arranha-céus mais alto da União Europeia em plena Londres, o London Aquatics Centre de Zaha Hadid, a Biblioteca de Birmingham dos Mecanoo, o Saw Swee Hock Student Centre da London School of Economics da O’Donnell + Tuomey Architects e a Manchester School of Art pelos Feilden Clegg Bradley Studios.

Mas o Stirling foi para a instituição da cidade dos Beatles, um edifício originalmente instalado em 1964 sobre uma capela do século XIX e que esteve em apuros e obras na última década. Traduzido à letra, o Everyman Theatre é o teatro do homem comum, nome que evoca “a alma” da instituição, feita de "informalidade e de propriedade comunitária”, como descreve o RIBA no comunicado de anúncio do prémio – “o teatro do povo”. Os 105 painéis móveis que preenchem a transparência do vidro da sua fachada são ilustrados com imagens de residentes de Liverpool.

“É verdadeiramente para todos os homens, mulheres e crianças. Resolve de forma inteligente tantos dos problemas que os arquitectos enfrentam todos os dias” diz o júri sobre o trabalho do atelier premiado.

Situado numa das principais artérias da cidade britânica, o edifício antigo foi demolido e substituído pelo projecto de Graham Haworth e Steve Tompkins. “Responderam com perícia a um desafio difícil: o de criar um edifício totalmente novo e sustentável enquanto retinha e revitalizava os aspectos mais acarinhados do seu antecessor”, escreve o RIBA, precisando que o resultado “é um novo edifício com um exterior impressionante e um interior elegante, tudo com uma atenção excepcional ao detalhe” e às questões de sustentabilidade – 90% dos materiais foram reutilizados e o auditório é naturalmente ventilado, por exemplo.

De acordo com o Guardian, o orçamento foi de 35,2 milhões de euros. Abriu ao público em Março. “Faz aquela coisa rara para um novo edifício, parecer que sempre lá esteve”, escreve Wainwright sobre o espaço, cuja fachada transparente cheia de gente é apenas mais um rosto no corpo de obra destes arquitectos – é o seu primeiro teatro construído de raiz, mas já projectaram mais de uma dezena de remodelações e recuperações de salas de espectáculo como o Young Vic (que fez com que em 2007 integrassem a shortlist do Stirling) e uma extensão temporária do National Theatre em Londres.

O Everyman Theatre é “um projecto de uma substância tranquila mas considerável”, escreve o crítico Ellis Woodman no Independent, que postula que este edifício parece pronto “a ser bem usado e muito admirado por muitos anos”.

Era um edifício em decadência que escondia um palco excepcional, de dez metros por dez metros, no seu interior. Agora, 25 mil tijolos do antigo edifício forram o novo auditório de 410 lugares e os críticos destacam ainda as camadas de espaço no grande átrio, bem como a animação criada pelas janelas, varandins e frestas dessa área social. “O sucesso” deve-se “ao envolvimento estreito dos arquitectos com a comunidade” ao longo do projecto, diz Stephen Hodder, presidente do RIBA. Fala de “equilíbrio perfeito entre continuidade e mudança”, de um “exemplo inovador de como construir um grande edifício público altamente sustentável arrojado num centro histórico”.

E Steve Tompkins recebe a mensagem: “É um importante apoio ao ethos do nosso estúdio e um encorajamento para continuarmos a trabalhar como fazemos, apesar das pressões às quais todos estamos sujeitos para acelerar e embrutecer”, diz na mesma nota. A directora artística do teatro, Gemma Bodinetz, também elogia o trabalho e a sua nova casa, “com níveis sem paralelo de acessibilidade para um teatro” e, no fundo, um “audaz e brilhante renascer”. 

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