OMS diz que ébola "é uma crise que põe em causa a paz e a segurança internacional"

UE discute controlo nas fronteiras, enquanto directora-geral da Organização Mundial de Saúde diz que 90% dos prejuízos económicos são causados por pânico infundado. Funcionário da ONU morre na Alemanha.

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Londres começou a medir a temperatura a passageiros de voos vindos de países afectados Peter Nicholls/Reuters

Margaret Chan, directora-geral da OMS, não poupou palavras para avisar sobre as consequências do ébola em países com um tecido social e um sistema político frágeis, como os da África Ocidental, onde a epidemia já fez mais de 4000 mortos: “Nunca vi uma crise de saúde ameaçar a própria sobrevivência de sociedades e governos em países já muito pobres. Nunca vi uma doença infecciosa contribuir tão fortemente para potenciais estados falhados.”

Chan declarou que o número de casos de infecções pelo vírus do ébola – que já ultrapassaram 8000, segundo dados da OMS – estavam a crescer exponencialmente nos países mais afectados – Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa. 

Na Alemanha, morreu nesta terça-feira um funcionário da ONU, sudanês, na Alemanha. Tinha sido levado da Libéria para a cidade alemã de Leipzig num avião com ala de isolamento especial. O homem, de 56 anos, foi a terceira pessoa com ébola a ser tratada na Alemanha: um médico do Uganda está ainda a receber tratamento num hospital de Frankfurt, enquanto um senegalês recuperou recentemente e teve alta após cinco semanas numa clínica em Hamburgo. 

Enquanto a atenção internacional se centrava nos poucos casos fora de África, Margaret Chan falou do “perigo das cada vez maiores desigualdades sociais e económicas”: “os ricos têm o melhor tratamento, e os pobres são deixados a morrer.”

Um dos americanos contagiados pelo ébola, o jornalista de vídeo Ashoka Mukpo, falou pela primeira vez no Twitter sobre a doença: “Agora que tive uma experiência em primeira mão com a doença”, escreveu da ala de isolamento do Centro Médico do Nebraska, “sinto-me ainda pior pelo pouco tratamento que os africanos doentes recebem”. 

A desigualdade, continuou Chan, nota-se no investimento das farmacêuticas, que sem incentivo económico para vacinas ou outros medicamentos para o ébola, que apareceu há 40 anos, não desenvolveram produtos.

Mas os riscos de negligenciar os cuidados de saúde em países pobres são evidentes “quando um vírus mortífero e temido atinge os que não têm nada e fica descontrolado e todo o mundo fica em risco”.

Ainda que a situação seja muito grave, Chan diz que “o pânico está a espalhar-se mais depressa do que o vírus”. E citou uma estimativa do Banco Mundial dizendo que “90% dos custos económicos vêm de esforços irracionais e desorganizados do público para evitar a infecção”.

Enquanto isso, sublinhou, “o mundo está mal preparado para responder a qualquer emergência de saúde pública grave e ameaçadora”.

Controlos nos aeroportos
Vários países estão a concentrar agora as suas atenções em controlos fronteiriços para tentar que pessoas potencialmente infectadas sejam logo identificadas.

O Reino Unido foi o primeiro país europeu a introduzir a medida e hoje os passageiros que cheguem ao aeroporto londrino de Heathrow vindos dos países africanos mais afectados irão responder a um questionário e ser-lhes-á medida a temperatura. O mesmo deverá acontecer em breve em Gatwick e no terminal do comboio de alta velocidade Eurostar.

Especialistas contestam esta medida, também em vigor nos EUA, dizendo que a maioria dos suspeitos serão pessoas com gripe e que casos de ébola poderão passar na mesma pelo controlo.

Apesar disso, este controlo de temperatura de viajantes será uma das propostas a discutir numa reunião de ministros de Saúde da União Europeia marcada para quinta-feira.

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