Ébola: DGS lamenta quebra dos protocolos e lança plano de comunicação

Conselho Nacional de Saúde Pública reúne-se quarta-feira de emergência para anúncio de um “plano nacional de comunicação”. O objectivo é transmitir mais informação aos cidadãos para que tomem “opções correctas”.

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O quarto no serviço de doenças infecciosas do Hospital de São João reservado aos doentes com ébola Rui Farinha (Arquivo)

O caso da doente que no domingo foi para o Hospital de S. João (Porto) pelos seus próprios meios por suspeita de infecção pelo vírus de ébola, depois de passar primeiro por uma unidade de saúde privada, demonstrou que os protocolos definidos pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) para evitar ao máximo uma eventual disseminação da doença foram completamente ignorados. Este foi o quinto caso suspeito em Portugal.

O Conselho Nacional de Saúde Pública foi convocado para uma reunião de emergência agendada para amanhã onde, segundo a DGS, será anunciado o “plano nacional de comunicação”. O objectivo é garantir toda a informação disponível à população para que os cidadãos possam tomar “opções correctas”.
 
O director-geral da Saúde lamentou que os protocolos e as medidas de precaução estabelecidas não tivessem sido cumpridos “nem pela unidade de saúde privada, nem pela doente” e sublinhou que, em caso de suspeita,  os cidadãos têm de ter consciência de que não se devem deslocar para o hospital nas suas viaturas e muito menos em transportes públicos.
 
Depois de se ter concluído que a doente afinal não tinha ébola,  Francisco George desdobrou-se em declarações aos órgãos de comunicação social e pediu às pessoas para colaborarem, ligando primeiro para a linha Saúde 24 (808242424), sempre que tenham alguma suspeita, em vez de irem directamente para as unidades de saúde, como aconteceu neste caso, até porque o transporte nestas situações deve ser feito por uma das três ambulâncias do INEM especificamente preparadas para o efeito. A mulher, com cerca de 40 anos e que passara por um dos países africanos de risco, foi internada no Hospital de S. João às primeiras horas da noite de domingo.

Em comunicado, o hospital admitiu, então, que tinha um paciente suspeito internado e especificou que estava “clinicamente estável”. Mas logo ao início da manhã de ontem percebeu-se que tudo não passara de um alarme falso, quando as análises às amostras enviadas para o Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (Insa), em Lisboa, se revelaram negativas.
 
Este foi já o quinto caso suspeito de ébola que fez soar campainhas de alarme em Portugal. O Insa já tinha despistado o vírus em três doentes que, em Agosto, Setembro e no início deste mês, passaram pelo Hospital Curry Cabral (em Lisboa) e num outro caso que não chegou a necessitar de tratamento hospitalar. Todos deram negativo (três tinham malária e um sofria de febre tifóide).  Além do S. João e do Curry Cabral, o D. Estefânia (em Lisboa) está destacado para eventuais internamentos pediátricos na capital.
 
A diferença, desta vez, é que o hospital do Porto admitiu, em comunicado, que tinha um caso suspeito internado antes de saber os resultados das análises. Fará sentido divulgar este tipo de informação, antes de se ter a confirmação da doença que está a assustar o mundo?  O presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, Henrique Barros, entende que o S. João tenha procedido desta forma, porque “havia informação a circular nas redes sociais”, mas lembra que “a amplificação de sinais de alerta” pode ter um efeito perverso,  podendo, “no futuro, levar ao desinteresse, descuido e não preparação para uma situação de facto”. Por isso, recomenda o médico e investigador, as unidades de saúde devem estar, por sistema, “num silêncio o mais monástico possível e não entrar no ruído”.

Sobre o plano de contingência definido pela DGS  para evitar a disseminação e casos de ébola em Portugal, Henrique Barros faz questão de acentuar que este “não se pode ficar pelos hospitais”, como tem sucedido atè à data. “Tem que se centrar nas pessoas e nas estruturas de saúde em geral, porque a tendência natural dos doentes é recorrerem à proximidade”, lembra.
 
Privados só têm um cartaz
Em resposta às críticas de Francisco George, Artur Osório, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP),  diz que estas unidades de saúde “só receberam a informação genérica que está no site da DGS e um cartaz com sintomas para afixar”. “Nós é que já tomamos algumas medidas”, diz Artur Osório, que garante que os profissionais de saúde sabem que, em caso de suspeita, devem isolar imediatamente o doente e pedir ao INEM o seu transporte.
 
Assegurando que a doente  internada no S. João não passou por nenhum dos maiores hospitais privados do Grande Porto, mas poderá ter ido “a uma pequena clínica”, Artur Osório espera que amanhã, na reunião do Conselho Nacional de Saúde Pública - que integra membros dos sectores público, privado e social, bem como especialistas, e tem funções consultivas do Governo no âmbito da prevenção e controlo de doenças transmissíveis - sejam também avançadas “directrizes sobre a forma de treinar os profissionais de saúde” . Por enquanto, assegura, as unidades de saúde (e só associadas da APHP são uma centena) estão a seguir as normas da DGS.
 
São considerados casos suspeitos  doentes que tenham estado nos últimos 21 dias num país de risco, onde há surtos de ébola (Guiné-Conacri, Serra Leoa, Libéria e Nigéria), ou quem esteve em contacto com pessoas infectadas e tenha um aparecimento súbito de febre superior a 38 graus.

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