António Barreto diz que vamos ter mais três a cinco anos de dificuldades

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Nuno Ferreira Santos

O sociólogo António Barreto acredita que Portugal ainda terá que passar por “mais três a cinco anos de dificuldades”, que será ainda preciso cortar mais 10 mil milhões de euros na despesa, e que, apesar da dureza dos últimos tempos, “era necessário fazer grande parte do que foi feito”.

Barreto só lamenta que tenha sido “mal feito, com maus prazos, maus níveis de juros, más maturidades, más escolhas, de bater nos pobres ou nos ricos, na classe média, nos velhos ou nos novos". O ex-presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos considera que “foi tudo à força, à bruta. Muitas coisas podiam ter sido feitas com mais selectividade, mais organização, mais explicação.”

Pelo contrário, o Governo preferiu o método do “eu quero, posso e mando, tem de ser, é a necessidade, e isso não se deve fazer”, aponta António Barreto em entrevista à TSF/Dinheiro Vivo.

“A minha convicção é de que vamos ter mais três a cinco anos de dificuldade”, afirma, considerando que será preciso fazer uma melhor gestão política dessas dificuldades económicas e financeiras do que se fez até aqui, envolvendo todos os decisores políticos. “Não houve um compromisso interpartidário. Falharam os partidos – os dois grandes -, falhou o Presidente da República, toda a gente.”

O que atira para o futuro novo líder socialista uma pesada responsabilidade. Mas será preciso esperar para ver o que virá de António Costa. Que terá que ganhar as eleições, ter um programa de Governo e “dizer onde é que vai buscar os recursos para as finanças públicas. Até agora tem-se limitado a dizer que a Europa paga. Isto não faz sentido. Paga o quê, como, quando e onde?”.

Embora considere “possível” uma vitória de António Costa nas legislativas, António Barreto duvida que tenha “capacidade para ganhar com maioria absoluta”. Por isso terá que trabalhar a política de alianças que já disse estar disponível para fazer com a esquerda. “O compromisso de uma grande maioria da ordem dos 60% a 70% é indispensável”, avisa António Barreto.

 O Livre é uma hipótese, mas não chega, e apesar de Costa ter mostrado abertura para o PCP, António Barreto prevê dificuldades nesse domínio porque o PS “é geneticamente anticomunista”.

Sobre os avisos de Cavaco Silva no 5 de Outubro de que o sistema partidário e político está em riscos, o sociólogo diz subscrever a análise, mas considera que “o Presidente da República deu o seu contributo” para a situação actual. “O mandato poderia ter sido feito de outra maneira, com os partidos políticos, com mais visibilidade pública. Se estas preocupações são dele há já dez anos, já o deveria ter dito antes”, critica António Barreto que vê nesta atitude do chefe de Estado uma tentativa de “construir a memória final do seu mandato”.

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