Noir falso, sexo verdadeiro

A "evidência" física de Eva Green contraria a gasosa digital que é este segundo Sin City.

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Eva Green anda a devolver, quase sozinha, o sexo a Hollywood

Uma das coisas boas de neste momento se poder ver A Desaparecida, de John Ford, em exibição comercial é que isso permite aos mais desatentos compararem o que era um filme americano “normal”, popular, nos anos 50 (quem achar, como se leu escrito sobre os Ozus que também estrearam há pouco, que Ford filmava para “nichos” ou para “intelectuais” está mesmo muito desatento), e o que é filme americano “normal”, popular, nos anos 2010.

Este segundo Sin City serve tão bem de exemplo como outro qualquer, tanto mais que faz apelo a alguma memória das próprias tradições hollywoodianas. Ou, precisamente, não faz, limitando-se a ser, como o filme precedente, uma variação menor, aligeirada e abonecada, do film noir e em particular do de inspiração chandleriana (cuja euforia verbal a narração off tenta, esforçadamente, emular), feita a pensar num público que a 99% nunca viu um “filme negro” e ainda menos ouviu falar de Raymond Chandler. Se vale a pena prestar atenção a algo neste filme, é (como na recente sequela de 300) à presença de Eva Green, cuja “evidência física”, por assim dizer, quase vira do avesso a gasosa digital que a rodeia. O que Green, aparentemente sabendo muito bem o que faz, anda a devolver quase sozinha ao cinema da grande indústria americana tem um nome simples: sexo, essa raridade nesta era que se não for a mais puritana do cinema americano é, por certo, a mais infantilizada.E quase se podia escrever uma adenda a esta nota mencionando o célebre
leak de fotos de celebridades ocorrido esta semana, como que confirmando que em Hollywood o sexo passou a ser só uma transgressãozinha adolescente.

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