Aqui bate o sol: Joaquim Pinto

Uma retrospectiva de alguns dos seus títulos a partir de hoje em Nova Iorque, a estreia comercial de E Agora? Lembra-me no dia 28 e uma integral na Cinemateca em Setembro: aqui bate o sol, Joaquim Pinto.

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O mundo visto da aldeia da Columbeira, onde há castros e grutas arqueológicas, hipóteses sobre os primeiros homens, sobre o amanhecer humano: foi dali que no final de 2011, e durante um ano, Joaquim Pinto viajou para Madrid para se submeter a tratamentos experimentais do vírus da Hepatite C. E Agora? Lembra-me começou por ser o diário dessa experiência. Foi ali que o cineasta se deixou obcecar pela vida eufórica dos vírus e pela sua interacção com a vida.

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Mas é vasto o que este filme nos faz ver a partir da Columbeira. Não é um filme “sobre”... Dizia Joaquim à reportagem do Ípsilon: “Há o perigo de pensar que estamos no centro das coisas. E com isso estamos a fazer mal a nós próprios." Diz Joaquim no seu documentário: “Quando voltarmos ao pó, a vida respirará de alívio.”

 E Agora? Lembra-me estreia-se hoje nos EUA, mesmo antes de chegar às salas portuguesas, e terá estreia argentina na Semana de Cinema Português, no início de Outubro; em Novembro será a França, e continuará o percurso por festivais. E hoje na Film Society do Lincoln Center, em Nova Iorque, os americanos podem começar a descobrir A Life Less Ordinary: The Films of Joaquim Pinto, uma selecção de entre os que ele realizou (esse domínio do “sagrado” e também “da carne”, como os programadores descrevem) e dos que produziu e trabalhou como técnico de som.

O que E Agora? Lembra-me está a fazer, desde já, é reactivar uma conversa interrompida com a obra de um realizador (e técnico de som e produtor de momentos áureos do cinema português - do final dos anos 80 e da década de 90, especificamente) que talvez se tenha desencantado cedo de mais com o cinema. E que reaparece com o mesmo pudor de cineasta.

É uma obra para descobrir na Cinemateca, a partir de 2 de Setembro, com a integral que lhe vai ser dedicada e a Nuno Leonel, DJ, músico, realizador de animação – o seu Santa Maria está no ciclo –, mergulhador, bombeiro, agora agricultor, seu colaborador e companheiro de vida desde 1996. É ver Uma Pedra no Bolso (1988) ou Onde Bate o Sol (1989) os tais filmes de Pinto que ficaram encerrados numa bolha de nostalgia por um olhar ter sido interrompido; é ver o fogo a queimar em Das Tripas Coraçao (1992), feito para televisão; depois o desaparecimento e depois luz que afinal nunca desapareceu apesar do desencanto: Surfavela (1996), primeiro filme da dupla Pinto/Leonel.

A retrospectiva apresentará todos os trabalhos dos dois, até ao Novo Testamento de Jesu Christo segundo João, registo de um dia de leitura por Luís Miguel Cintra de Evangelho Segundo S. João ao ar livre, no campo. Ali na Columbeira recria-se o mundo, ali, onde bate o sol.

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