Tudo em família

Ciúme é o melhor filme de Garrel em muito tempo

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Philippe Garrel é, admissivelmente, um “gosto adquirido”; o seu cinema lírico e hiper-romântico, inscrito numa tradição “auteurista” francesa que fetichiza ao limite gestos, momentos e eras, parece demasiadas vezes engavetar-se nos lugares-comuns do “romantismo do artista na mansarda parisiense na ruela escura”.

Dito assim, parece redutor, e Garrel é mais interessante do que isso; é a articulação desse fetichismo estilístico com uma narrativa menos aérea e mais ancorada do que é costume que faz de Ciúme o seu melhor filme em muito tempo, voltando a mergulhar de modo catártico na própria experiência do realizador.

O seu filho Louis emprega toda a sua flânerie a reencenar à distância os affaires do falecido pai Maurice, Anna Mouglalis transpira sensualidade no papel da actriz insegura que o leva a abandonar mulher e filha e, depois, a provar do seu próprio veneno. É uma miniatura delicada e terna de uma brevidade elegante, fotografada magistralmente por Willy Kurant num preto e branco radioso.

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