De que lado estás neste muro?

Omar estabelece um pacto com a sua personagem, não há ambiguidades aí. Belém escolhe a objectividade - coisa sempre ambígua

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A tragédia do informador no conflito israelo-paleatiniano. Uma figura entre os dois lados de um muro que divide (israelitas de palestinianos, palestinianos de palestinianos).

Omar

, de Hany Abu-Assad, estabelece um pacto com essa personagem. Antes de ser “pró-palestiniano”, porque claramente é filmado de um dos lados desse muro, é a favor de uma personagem, Omar, que é palestiniana. Assumidamente subjectivo na

démarche

(é ler, aliás, as declarações do realizador), a sua “verdade” não resulta de uma postura de isenção mas da forma como se coloca no espaço a vários palmos do chão que é o da personagem.

Sem ambiguidades aqui: os planos em que Omar passa a salto o muro vão-se desligando de qualquer necessidade narrativa ou mesmo de uma política de denúncia; são a experiência, mental, existencial, da divisão.

O israelita Yuval Adler também se interessou pela figura dos informadores, e pelas ligações que agentes dos serviços secretos israelitas com eles estabelecem: pais e filhos numa tragédia anunciada. Há algo que é comum aos dois filmes e isso não se deixa tocar por qualquer competição entre os dois para ganhar uma “verdade”. E isso é a vontade de chegar perto de uma rede de relações em que tudo oscila, o privado e o público, o íntimo e o político, para entender o que aí se perde.

Mas há, evidentemente, uma diferença: a subjectividade de Omar é a sua singularidade enquanto filme. Faz das fraquezas a sua força. Já Belém adopta uma postura de “objectividade” (é ler, também, as declarações do realizador), como se pretendesse apenas descrever as peças que estão em jogo. É isso que lhe dá um tom de “filme de género” em formato de máquina anónima, televisiva - nada a ver com a generosidade das renoirianas razões de cada um. É claro que, para além disso, ao escolher a “objectividade” coloca-se no plano da ambiguidade.

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