A “geração dourada” contra o menino de ouro

Já lá vão mais de duas décadas desde que Bélgica e Argentina chegaram às meias-finais de um Mundial. Um deles repetirá o feito.

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Treino da selecção da Bélgica, em Brasília David Gray/Reuters

As melhores e as piores memórias da Bélgica em Campeonatos do Mundo cruzam-se, inevitavelmente, com a Argentina. Em 1986, no México, onde a selecção então treinada por Guy This conseguiu a melhor performance de sempre (quarto lugar), foi às mãos dos sul-americanos que o sonho terminou. Nas meias-finais, em pleno Estádio Azteca, dois golos de Diego Maradona arrumaram o assunto. Hoje, 28 anos depois, há uma nova oportunidade para, pelo menos, igualar a história.

Marc Wilmots, o mentor do percurso promissor da selecção belga neste Mundial, tinha 17 anos nessa altura. “Havia uma grande euforia. Lembro-me que o Maradona deu a vitória à Argentina. Mas é uma memória distante. Esta é outra geração”, aponta o actual seleccionador e um dos melhores avançados da história da Bélgica. Tem razão. Esta é, de facto, outra geração. Mas a verdade é que, em talento e potencial, tem sido muitas vezes comparada àquela equipa que reunia nomes como Jean Marie Pfaff, Frank Vercauteren, Enzo Scifo ou Jan Ceulemans.

Depois dessa valiosa fornada de jogadores, a Bélgica foi, aos poucos, descurando a formação e perdendo protagonismo internacional, ao ponto de ter falhado a presença nos Mundiais de 2006 e 2010. Quando o trabalho de base foi retomado, a árvore voltou a dar frutos, que não tardaram a ser colhidos pelos grandes clubes da Europa. É justamente na qualidade de um lote de jogadores que hoje brilha na alta roda internacional (de Courtois a Kompany, de Witsel a Fellaini, passando por Hazard, De Bruyne, Mertens ou Lukaku) que esta equipa se tem apoiado no últimos anos.

“A Bélgica tem muita qualidade. É uma geração dourada, com muitos jogadores em Espanha e Inglaterra. Tem individualidades soberbas. Há que ter atenção quando eles tiverem a bola”, avisa Alejandro Sabella, o experiente seleccionador argentino que lidera a selecção desde 2011.

Algo de semelhante passará pela cabeça de Wilmots, que de cada vez que olha para o ataque dos sul-americanos encontra nomes como Higuaín, Di María ou Lionel Messi. Ainda assim, o belga não se ilude: “Vi o jogo com a Suíça e eles são verdadeiramente uma equipa, um colectivo que se coloca ao serviço de Messi”, avalia. O homólogo argentino assina por baixo: “Qualquer equipa que tenha um jogador como Messi será dependente. É o melhor do mundo, mas há um verdadeiro trabalho de conjunto”.

“Ir até ao limite”
Se há alguma paridade no talento, no plano físico as contas também se equivalem, até porque ambas as selecções foram forçadas a um prolongamento nos oitavos-de-final. “Estamos prontos, preparados para ir até ao limite. E também sei que o meu banco pode fazer a diferença”, atira Wilmots, deixando claro que a Bélgica não abdicará dos seus princípios. “Vamos manter a nossa filosofia, seremos ofensivos. Podemos fazer história”.

Esse pendor atacante, que se alastra até aos médios de características mais defensivas, como Witsel ou Fellaini, desequilibra muitas vezes a equipa, especialmente no momento da transição defensiva, como se viu frente aos EUA. E essa poderá ser uma oportunidade para a Argentina, com uma matriz mais calculista, aplicar as suas armas. à imagem do que acontece em campo, também no discurso Alejandro Sabella é precavido. “Queremos vencer e chegar à final, mas três anos de trabalho não se resumem a um jogo”, aponta.

Jogo, esse, que Marcos Rojo (castigado) vai ver de fora, deixando o lado esquerdo da defesa “alviceleste” entregue a José María Basanta. É muito provavelmente com o jogador dos mexicanos do Monterrey no “onze” que o seleccionador vai tentar que a Argentina ultrapasse a barreira dos quartos-de-final, algo que não acontece desde 1990: “Os argentinos pensam sempre que somos os melhores, muitas vezes melhores do que aquilo que somos realmente. Isso tem um lado bom e um lado mau.”

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