Van Gaal está vacinado contra o “veneno” costa-riquenho

O técnico sabe o que é ser derrotado por “Los Ticos”. Aconteceu em 2001, em pleno Mundial de sub-20, com uma equipa em jogavam Robben e Huntelaar.

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Pilar Olivares/Reuters

Se o desempenho sensação da Costa Rica neste Mundial obriga, hoje, qualquer adversário a olhar para “Los Ticos” com todos os cuidados e mais alguns, há um membro da comitiva holandesa que parte para o desafio desta noite com redobrada desconfiança — nada mais do que o homem do leme desta “laranja mecânica”, Louis Van Gaal. Tudo porque o seleccionador já sentiu na pele o mesmo veneno que, recentemente, provaram Uruguai, Itália, Inglaterra e Grécia, com uma diferença: no caso do técnico de 62 anos, o “golpe” sucedeu há já 13 anos.

O percalço aconteceu quando Van Gaal era treinador dos sub-20 holandeses e se encontrava a disputar o Campeonato do Mundo deste escalão, na Argentina. Com nomes como Stekelenburg, Van der Vaart, Huntelaar ou Arjen Robben no “onze”, a equipa dos Países Baixos estreou-se precisamente com um embate frente à Costa Rica e não se pode dizer que lhe tenham sobrado grandes recordações. Pelo contrário: os centro-americanos terminaram o encontro com uma vitória por 3-1 e foram primeiros classificados do grupo, remetendo os holandeses para o terceiro posto. É certo que a Costa Rica não tardou a sucumbir (nos oitavos-de-final, perante a República Checa), mas o episódio terá servido de lição ao técnico holandês. 

Talvez por isso a cautela tenha sido nota de destaque no discurso de Arjen Robben. “Têm uma equipa muito forte e já o provaram na fase de grupos, onde tiveram um desempenho impressionante. Temos que manter-nos concentrados e prepararmo-nos muito bem”, sublinhou o avançado, em entrevista ao site da FIFA. Aquele que tem sido um dos melhores jogadores deste Mundial apontou, inclusivamente, o caminho para não sucumbir perante a equipa sensação — evitar repetir a primeira parte do jogo com o México. 

Com o melhor ataque da prova (12 golos apontados até agora), os holandeses partem para o encontro no Arena Fonte Nova como claros favoritos, mas não poderão contar com o médio Nigel de Jong, pelo que Van Gaal — que, antes da partida, negou que a Holanda tenha uma “equipa fantástica” — deverá fazer avançar Daley Blind para o meio-campo. 

Conto de fadas
Só que, se para os holandeses é fundamental acabar de vez com a “maldição” que já os levou a ver fugir a Taça Jules Rimet, na final, por três vezes, do outro lado estará uma Costa Rica que, apesar de estar a viver um verdadeiro conto de fadas, reivindicando para si a presença mais imprevista nos quartos-de-final, se tem apresentado em campo com um realismo e um pragmatismo que têm desarmado os adversários. 

Van Gaal até pode estar já vacinado contra o poderio do futebol costa-riquenho, mas também Jorge Luis Pinto terá trunfos acrescidos para preparar o embate frente aos europeus. Enquanto estudava na Universidade de Colónia, nos anos 80, o técnico colombiano fazia questão de acompanhar de perto os treinos do clube local, na altura orientado por Rinus Michels, nada mais do que o mentor do chamado “futebol total” que, anos mais tarde, em 1988, levaria a Holanda à sua única conquista internacional — o Campeonato Europeu desse ano. 

E o técnico, que, no lançamento da partida, confessou tratar-se de uma ocasião “única e histórica”, nem é o único, dentro do plantel de “Los Ticos”, a conhecer bem o futebol holandês: Bryan Ruiz, o avançado que, a par de Joel Campbell, reivindica o estatuto de estrela da equipa, jogou durante três épocas no Twente, da Eredivisie, tendo regressado ao futebol holandês, na época passada, para representar o PSV Eindhoven, por empréstimo do Fulham. 

Ainda assim, Ruiz parece partir para o encontro com índices de confiança imbatíveis. “O jogo de sábado é como uma final para nós, mas não queremos parar por aí. A Holanda é uma grande equipa, só que tenho que ser honesto e dizer que temos boas hipóteses de os bater”, defendeu, sublinhando que a Costa Rica terá que se preocupar com “muitos detalhes”, se quiser levar de vencidos os comandados de Van Gaal. 

Com Oscar Duarte castigado e Miller de fora por lesão (não deve recuperar a tempo), a selecção centro-americana pode, em caso de vitória, tornar-se na primeira nação da CONCACAF a chegar às meias-finais, desde que os EUA o conseguiram, em 1930. Para isso, “Los Ticos” contam com um Keylor Navas que salvou, até agora, 87,5% dos remates desferidos contra a sua baliza e com uma pontaria afinadíssima — a prová-lo, o facto de a equipa, que faz um remate à baliza a cada 26 minutos, ter apontado, até agora, cinco golos em apenas 15 tentativas enquadradas com os postes.     

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