“É estúpido que a UE tenha entrado numa guerra fria com Putin”, disse Marine Le Pen
A Frente Nacional é um dos partidos de extrema-direita europeus que procuram as boas graças do Presidente russo.
Na primeira conferência de imprensa que deu em Bruxelas, depois da vitória eleitoral da Frente Nacional nas europeias, Marine Le Pen não perdeu tempo a demonstrar de novo o seu apoio ao Presidente russo, Vladimir Putin, que classificou como “um patriota”.
“É estúpido da parte da União Europeia ter entrado numa guerra fria com a Rússia. Nada o justifica”, afirmou Le Pen. Nem mesmo a possibilidade da desintegração da Ucrânia. As tensões entre a UE e a Rússia no contexto da crise ucraniana constituem “um enorme erro geopolítico e geoestratégico”, até porque assim a Europa mais não faz do que “atirar a Rússia para os braços da China”. Exemplo disso é a recente assinatura de um contrato “gigantesco, histórico”, de venda de gás a Pequim.
A líder da Frente Nacional (FN) sublinhou a necessidade de a Europa “manter relações equilibradas com todos os grandes países”. A França, em particular, “tem todo o interesse em desenvolver relações comerciais e estratégicas com a Rússia”, que é, “incontestavelmente, um grande país”.
Não é de estranhar que Marine Le Pen critique “a estupidez da UE ao ter uma posição hostil à Rússia”, e que diga que Vladimir Putin e as grandes nações da União Europeia defendem “valores comuns”, que ela diz serem “a nossa herança comum da civilização cristã europeia”.
A líder da FN tem boas relações com a Rússia Unida, o partido que apoia Vladimir Putin – a prová-lo estão as frequentes deslocações a Moscovo de líderes do partido de Marine Le Pen, noticiou o Le Monde. A Frente Nacional é um dos partidos mais envolvidos com a Rússia – a própria Marine Le Pen foi já recebida este ano na Duma, a câmara baixa do Parlamento russo
Mas Marine Le Pen não está sozinha entre os novos dirigentes dos partidos de extrema-direita europeia a procurarem as boas graças russas. Acontece com o Jobbik húngaro, o Aurora Dourada grego e as várias formações nacionalistas de extrema-direita e racistas que surgiram nos países que formavam o Bloco de Leste.
Mas Moscovo está também a investir na Europa Ocidental e nos partidos de extrema-direita que entraram no Parlamento Europeu nas eleições de 25 de Maio. O Partido da Liberdade do holandês Geert Wilders, a Liga Norte italiana e o Vlaams Belang, na Bélgica, vêem com simpatia o discurso neoconservador e soberanista do Kremlin, que se vê como guardião dos valores em decadência no Ocidente.
Se a Frente Nacional chegar a formar de facto um grupo no Parlamento Europeu, essa poderá ser uma forma de a Rússia ver os seus interesses representados neste órgão da União Europeia, arriscam alguns analistas. O apoio russo a estes partidos não tem sido tanto em termos financeiros, mas sim organizacional e de estratégia, e também ao nível dos media, diz um estudo do instituto de investigação húngaro Political Capital, divulgado em Março.