Quando "uma cenoura feia é uma sopa feliz"

Em francês e em português, alargam-se as campanhas e as iniciativas a favor do consumo de produtos hortícolas “feios” e “deformados” para combater o desperdício de frutas e legumes e para celebrar o Ano Europeu contra o Desperdício Alimentar

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"Pela sua saúde, coma cinco frutas e legumes feios por dia". Este é o mote da campanha do Intermaché que, em França, incita os consumidores a comprarem produtos hortícolas deformados e descoloridos.

Foi em Abril deste ano que a cadeia de supermercados francesa, Intermaché, lançou uma campanha publicitária em nome da fruta e dos legumes feios, para combater o desperdício de produtos alimentares.

De acordo com o Greensavers, num ano, em média, são desperdiçados cerca de 300 milhões de toneladas de comida na União Europeia, 40% dos quais são frutas e legumes. Grande parte deste desperdício resulta da selecção que os vendedores fazem dos seus produtos, eliminando os que não estejam em perfeitas condições e na melhor imagem. Contudo, não há obrigações legais que imponham esta espécie de triagem e, acrescendo ao desperdício óbvio, também acaba por haver um gasto desnecessário de dinheiro e recursos.

A realidade é que 57% dos consumidores deita comida para o lixo por causa do seu aspecto, aumentando o desperdício já causado pelos vendedores.

A campanha publicitária foi concebida pela Marcel Paris e, segundo a agência de publicidade, citada pela Greensavers, resultou num aumento de 60% no tráfego na secção de frutas e legumes dos supermercados, bem como de 24% nas visitas às lojas.

Fruta feia à portuguesa

A Portugal, mais precisamente a Lisboa, o gosto pela fruta e legumes feios nasceu em Novembro de 2013, com a abertura da Cooperativa da Fruta Feia, que já conta com duas delegações e uma vasta lista de produtores e associados.

À semelhança da campanha publicitária "Les fruit et legumes moches", o objectivo da Fruta Feia CRL é reduzir o desperdício alimentar. Segundo a Cooperativa, o elevado desperdício alimentar que hoje existe, deve-se mais exigências dos consumidores do que dos vendedores: "Desde o momento em que as frutas e hortaliças "feias" deixaram de ser um produto para o consumidor, também o deixaram de ser para os supermercados e distribuição." Defendem que, portanto, a solução para o problema passa, igualmente, pelos consumidores.

A Fruta Feia CRL funciona num sistema de Cooperativa de Consumo em que por 3,5€ a 7€ por semana, têm direito a cestas entre os 3 e os 8kg recheadas de produtos hortícolas deformados e assimétricos. Os consumidores inscritos "estão comprometidos em recolher a sua cesta todas as semanas, no local e horário de fornecimento."

Passadas 25 semanas desde a abertura da Fruta Feia CRL, os 420 consumidores inscritos ajudaram a evitar 25 toneladas de desperdício. Por agora, enquanto dura a fase embrionária do projecto vencedor do 2º prémio FAZ – Ideias de Origem Portuguesa, as perspectivas de sair da cidade de Lisboa são escassas, mas a Cooperativa pretende alargar continuamente a sua rede de produtores e consumidores.

Texto editado por Luís Octávio Costa

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