BCE não avança para já com compra de activos para estimular a economia

Taxa de depósito negativa e empréstimos de longo prazo à banca são cenários em cima da mesa para a reunião de Junho, adianta a agência Reuters

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Euro forte prejudica exportações da zona euro Alex Grimm/Reuters

Com base em cinco fontes ligadas ao processo que falaram sob anonimato, a agência Reuters avança esta quarta-feira as medidas que irão estar em cima da mesa na próxima reunião do Conselho de Governadores do BCE, marcada para o próximo dia 5 de Junho. Do elenco de opções fazem parte medidas que visam, essencialmente, pressionar o sistema bancário a aumentar o fluxo de empréstimos às famílias e às empresas, que continuam, ambos, em níveis historicamente baixos.

Entre as medidas citadas pelas fontes da Reuters está, precisamente, um corte nas três taxas de referência do BCE – a de juro, a de empréstimos e a taxa de cedência marginal. No caso das taxa que o banco paga como remuneração pelos depósitos, o corte poderá colocar o referencial em terreno negativo, o que constituirá uma novidade no sistema monetário mundial.

Esta possibilidade já tinha sido abordada, no fim de semana passado, por um membro executivo do Conselho de Governadores, Peter Praet, em declarações ao semanário alemão Die Zeit. “Taxas de depósito negativas são uma parte possível de uma combinação de medidas. Nós estamos a preparar um conjunto de actuações e podemos voltar a fazer empréstimos de longo prazo à banca, mediante condições a definir”, afirmou Praet.

Ao fazer recuar a taxa dos depósitos para um patamar negativo (está, actualmente, em 0%), o banco central desincentiva a colocação por parte da banca dos seus execessos de liquidez nos cofres da instituição. Mas, ao mesmo tempo, retira pressão sobre o euro, embora, afirme a Reuters, o BCE não tenha calculado que impacto terá, a este nível, a decisão de baixar a taxa de depósitos.

A moeda única tem navegado acima dos 1,35 dólares nos últimos tempo, tendo chegado mesmo a bater os 1,40 dólares na semana passada. Esta robustez do euro retira competitividade aos produtos criados no espaço comunitário, o que acrescenta problemas às empresas.

Para as outras duas taxas, admitem as fontes, os cortes poderão andar entre 0,1 e 0,2 pontos percentuais (10 a 20 pontos básicos). A taxa de juro está, desde Novembro de 2013, em 0,25% e a de cedência marginal em 0,75%.

Na agenda da reunião do dia 5 de Junho poderá estar, igualmente, um programa de compra de activos aos bancos cujas garantias sejam empréstimos concedidos a pequenas e médias empresas. Neste caso, o cenário poderia ser o de concessão de créditos de longa duração, eventualmente, superior aos três anos da última operação do tipo (LTRO) concretizada entre finais de 2011 e princípio de 2012, quando foram mais agudos os problemas de financiamento bancário.

Ao exigir garantias aos bancos que tenham como base os empréstimos a pequenas e médias empresas, o BCE está a pressionar o sistema financeiro a canalizar mais dinheiro para os negócios de menor dimensão, que têm, actualmente, muitas dificuldades em conseguir financiamento.

Quanto a um programa de impressão de dinheiro para comprar activos no mercado financeiro, como fez a Reserva Federal com evidentes resultados, parece, para já, segundo as fontes contactadas pela Reuters, uma carta fora do baralho. A tese que vinga no BCE é a de que a combinação de indicadores económicos não justifica uma intervenção dessa natureza, embora o presidente do banco central alemão, Jens Weidmann, tenha abandonado recentemente a sua oposição total à medida.
 

   

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