O número dois do ténis português só ganha para as despesas

Mudou-se para o Brasil há quatro anos, depois de vários a treinar nos Estados Unidos. Mas dedicar a vida ao ténis não é simples: aos 23 anos, Gastão Elias luta para chegar ao fim do mês com dinheiro e continua a contar com a ajuda dos pais

 Todos os meses tenho de estar ali 'na raça' para conseguir mais ou menos para o mês seguinte Rui Gaudêncio
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Todos os meses tenho de estar ali 'na raça' para conseguir mais ou menos para o mês seguinte Rui Gaudêncio
Jose Sarmento Matos
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Jose Sarmento Matos

Gastão Elias, o número dois português, confessou que não ganha dinheiro com o ténis e tem mesmo de fazer uma ginástica mensal para conseguir pagar todas as despesas. "Ao final do ano não tenho lucro. Ao final do ano as contas saem todas assim iguais. Neste momento não ganho dinheiro com o ténis, ganho para as despesas", confessou à agência Lusa.

Em média, por ano, no circuito, Gastão Elias precisaria de 50.000 dólares (cerca de 36.000 euros) para estar "mais ou menos tranquilo financeiramente", com a soma a depender dos torneios que joga, que podem ou não ter hospitalidade (alojamento e alimentação incluídos), do treinador, que recebe uma mensalidade fixa e uma percentagem, conforme o que ganha, e dos "gastos normais", ou seja, comida, hotel, aviões.

"É muito difícil [ganhar o suficiente]. Todos os meses tenho de estar ali 'na raça' para conseguir mais ou menos para o mês seguinte. Até agora, tenho conseguido e qualquer coisa sei que tenho o apoio dos meus pais e a ajuda deles se precisar. Digamos que não estou bem financeiramente, mas também não estou desconfortável ao ponto de interferir no ténis", reconheceu.

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Gastão Elias é o número 179 do ténis mundial Jose Sarmento Matos

Da Lourinhã para o Brasil

Há quase quatro anos, Gastão Elias mudou-se para o Brasil, mais concretamente para Campinas, depois de vários anos nos Estados Unidos, na famosa Academia de Nick Bollettieri. "Foi uma opção minha, eu não conhecia ninguém no Brasil, o meu agente conhecia o Jaime [Oncins, o seu treinador] desde a altura em que ele era jogador, então simplesmente mostrou-me essa possibilidade, fui lá experimentar, gostei e até hoje estou lá", recordou o número 179 do ténis mundial e vice-campeão do "challenger" de Santos.

E a mudança, para o divertido jovem da Lourinhã, não poderia ter sido mais positiva: "Nos Estados Unidos, era uma coisa organizada, assim tudo com horários fixos, tudo muito disciplinado. Era uma boa academia para a fase de iniciante ao profissional. Acho que, para crianças, é bom ter esse profissionalismo desde início, e ensina bastante. Em Vinhedo, onde eu moro, é um pouco diferente, é um clima mais relaxado, mais tranquilo, é melhor para pessoas assim já da minha idade".

Sempre de sorriso nos lábios e sem qualquer traço de vedetismo, Elias partilha o seu dia-a-dia com Jaime Oncins, dentro e fora dos "courts", uma vez que vive em casa do seu treinador. "É tranquilo. Ele é uma pessoa tranquila e a casa dele é grande, portanto vivemos na mesma casa, mas ao mesmo tempo é separado, porque ele vive na parte de cima da casa e o meu quarto é em baixo. Então tenho alguma privacidade e ele também", contou.

O dia-a-dia do jovem de 23 anos em Campinas é simples: treina de manhã, normalmente a partir das nove horas, almoça no caminho para casa ou em casa "comida brasileira, arroz e feijão e carne — é arroz e feijão e carne todos os dias" —, e depois à tarde, treina mais duas horas, normalmente às 15 ou 16 horas, acabando com uma hora de musculação.

Da rotina também fazem parte as conversas com a família que vê "pouco, muito pouco", normalmente apenas na época do Portugal Open, uma semana a meio do ano quando vem a Portugal para descansar e no final do ano, nas férias. "Já me habituei. Pior para eles do que para mim. Mas hoje em dia é tranquilo, há o Skype, o FaceTime, essas coisas todas, então sempre que tenho saudades ou eles, ligamos e falamos e eu consigo vê-los."

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