O novo álbum dos Wu-Tang Clan é único (literalmente)

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Os Wu-Tang Clan vão expor "Once Upon a Time" in Shaolin em museus, galerias e festivais: o disco, entretanto guardado num cofre em Marrocos, poderá ser ouvido mediante o pagamento de bilhete

Edições de luxo com CD e DVD extra; edições com cadernos recheados de fotos inéditas e textos de especialistas; dezenas de gravações de ensaios e outro material não editado, que permitirão, assim dirá o press release, acompanhar intimamente todo o processo criativo. Conhecemos há vários anos as estratégias para contornar a crise de vendas da indústria discográfica e revalorizar o objecto musical (CD, vinil, DVD). Pois bem, os Wu-Tang Clan, tal como fizeram com o universo hip-hop quando editaram o seminal Enter the Wu-Tang (36 Chambers), vieram elevar a fasquia.

Já sabíamos que colectivo de RZA, Method Man ou Raekwon tinha regresso aos álbuns marcado para 2014 (A Better Tomorrow sairá no Verão). Não sabíamos do resto. Os Wu-Tang Clan editarão outro disco este ano. Mas não será fácil ao autor destas linhas ou aos seus leitores ouvi-lo. Once Upon a Time In Shaolin, álbum duplo gravado ao longo dos últimos cinco anos, será uma edição de um único exemplar (isso mesmo: só existe uma cópia). Que está alojado numa caixa de prata e níquel criada pela artista anglo-marroquina Yahya e guardada num cofre algures em Marrocos. O álbum será exposto (é a palavra correcta) em museus, galerias de arte e, provavelmente, festivais de música, e poderá ser ouvido pelo público mediante o pagamento de bilhete. Público que será controlado para impedir qualquer fuga para o mundo virtual da música preciosa. No final da “digressão”, será leiloado e os Wu-Tang Clan, como confessaram na entrevista à Forbes em que foi revelado o projecto, esperam que atinja valores de milhões de dólares. Ou não.

“Pode ser um flop total, podemos ser completamente ridicularizados”, disse Tarik “Cilvaringz” Azzougarh, co-produtor do disco. Mas, segundo ele, valerá a pena correr o risco: “O âmago da nossa ideia é inspirar criatividade, originalidade e debate, e salvar da morte o álbum de música.” Once Upon a Time In Shaolin tem 31 canções e uma duração de 128 minutos. “Capta o lendário dark funk e o som vanguardista do Clan e foi produzido no genuíno estilo dos Wu-Tang dos anos 1990”, escreveu a banda no seu site. Todos os membros do grupo participam no álbum — bem como Redman, uma cantora chamada Bonnie Jo Mason que o Guardian diz ser um pseudónimo de Cher, e, pasme-se alguns “jogadores do FC Barcelona”. A banda explica que o projecto pretende ser, acima de tudo, um manifesto artístico. “O valor intrínseco da música foi reduzido a zero. A arte contemporânea vale milhões em virtude da sua exclusividade. Ao adoptar uma abordagem ao estilo, velho de 400 anos, da Renascença, disponibilizando a música como um artigo comissariado e permitindo-lhe que siga uma trajectória semelhante, da criação à exposição e à venda, esperamos inspirar e intensificar debates urgentes acerca do futuro da música.” Coleccionadores de arte de todo o mundo, preparem-se: chegaram os Wu-Tang Clan.

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