Os nossos genes tornam-nos desiguais perante os fritos

Estudo conclui que os efeitos de uma dieta pouco saudável poderão ser inflacionados pela configuração genética de alguns de nós.

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O aumento de gordura corporal devido ao excessivo consumo de fritos parece ter uma componente genética Jason Reed/REUTERS

Comer fritos mais de quatro vezes por semana tem duas vezes mais impacto no aumento do índice de massa corporal (IMC) das pessoas cujos genes as tornam mais propensas à obesidade do que nas menos propensas. O estudo foi publicado na revista British Medical Journal com data desta quarta-feira.

Já se sabia que tanto o consumo de fritos como as variantes de certos genes estão associados ao aumento de gordura corporal. Mas é a primeira vez que é identificada uma interacção entre esse tipo de consumo alimentar e o risco genético de obesidade.

Para fazer o seu estudo, Lu Qi, da Universidade de Harvard, e colegas analisaram os casos de 37 mil homens e mulheres envolvidos em três grandes ensaios sobre saúde nos EUA.

Os cientistas recorreram a questionários sobre o consumo de alimentos fritos e calcularam o risco genético de cada pessoa com base em 32 variantes genéticas que se sabe estarem associadas ao IMC e à obesidade, explica aquela revista médica em comunicado.

Dividiram os consumos de fritos em três categorias: menos de uma vez por semana, uma a três vezes por semana e mais de quatro vezes por semana. Quanto ao nível de risco genético, os valores calculados situavam-se entre 0 e 64.

O IMC, pelo seu lado, é calculado dividindo o peso da pessoa (em quilos) pela altura ao quadrado (em metros). Se for inferior a 18,5, o peso é baixo; se se situar entre 18,5 e 24,9, o peso é normal; entre os 25 e os 29,9 a pessoa tem peso a mais; e acima de 30 é considerada obesa.

Os cientistas constataram então que, entre os participantes com valores de risco genético situados no terço superior da dita escala de 0 a 64, as diferenças de IMC entre os que consumiam fritos menos de uma vez por semana e os que o faziam mais de quatro vezes por semana eram de 1 nas mulheres e de 0,7 nos homens (com os maiores valores do IMC a corresponderem aos maiores consumos de fritos). Pelo contrário, no terço inferior da escala de risco genético, as diferenças de IMC entre o baixo e o alto consumo de fritos baixavam para 0,5 nas mulheres  e 0,4 nos homens – ou seja, os respectivos valores das diferenças ficavam reduzidos a metade do que eram no topo da escala de risco genético de obesidade.

Os autores fazem notar que, embora tenham tido em conta factores como o estilo de vida de cada um, o nível de actividade física e o consumo de tabaco, os resultados poderão ter sido afectados por outros factores, não identificados. Porém, segundo eles, estes resultados indicam não só que os genes influem sobre os efeitos do consumo de fritos, como também, reciprocamente, que a influência dos genes na gordura corporal de cada um pode se alterada pelo facto de se consumir muitos fritos. Dito por outras palavras, isto significa em particular que nas pessoas mais geneticamente predispostas, o facto de consumir fritos poderá estar a inflacionar a tendência genética de se tornarem obesas.

“Os nossos resultados mostram que é importante reduzir o consumo de fritos para prevenir a obesidade, em particular nas pessoas geneticamente predispostas à adiposidade”, diz Lu Qi.

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