O bom Auden

W.H. Auden foi um dos grandes egoístas do século XX. No livro Becoming A Londoner, uma selecção do diário de David Plante, alguém descreve Auden como um autocarro. Generosamente deixa entrar toda a gente que quer viajar com ele mas, uma vez iniciada a marcha, segue o caminho determinado pelo condutor, sem prestar atenção às preferências dos passageiros. Ou seja: falava do que lhe apetecia mas não ouvia o que os outros diziam.

Não será novidade para quem gosta de ler os poemas dele - esquecendo os episódios mais engraçados das biografias - que Auden não podia ser tão egoísta. Edward Mendelson, o organizador da poesia completa de Auden, escreveu um belo ensaio, "The Secret Auden", publicado no último New York Review of Books, datado 20 de Março de 2014. Está disponível online grátis.

Mais do que revelar o lado bom de Auden (a primeira parte do ensaio, que requer alguma caridade), Mendelson mostra a maneira inteligente como Auden encarava a tirania política e pessoal. Lutava contra elas mas compreendia-as e reconhecia-se, como ser humano e pensador, vulnerável a elas.

O pensamento político de Auden - quando, por exemplo, brinca com o snobismo intelectual do amigo Isaiah Berlin - é astuto, profundo e atemporal. É pena ter sido tão tímido - ou terá sido generosidade? - neste outro grande talento que também tinha.

Será por isso que o poema que quis esquecer ("September 1, 1939") continua a ser - até por Edward Mendelson - o mais citado? Talvez não.

 

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