Análise ao sangue poderá revelar risco de se morrer prematuramente

Quatro marcadores biológicos parecem estar relacionados, mesmo nas pessoas aparentemente saudáveis, com um risco bastante acrescido de morrer nos cinco anos que se seguem.

Foto
Poderá um teste sanguíneo permitir estimar o risco de morte prematura de uma pessoa? Hugo Delgado/Arquivo

Um estudo de um género inédito, realizado por uma equipa internacional de cientistas, mostra que pode ser possível detectar, no sangue de uma pessoa, uma “assinatura” do seu risco de morte por doença num futuro relativamente próximo. Os resultados ainda precisam de ser validados, escrevem os autores na revista online de acesso livre PLos Medicine, mas, a serem confirmados, poderão um dia ajudar a identificar as pessoas de alto risco, mesmo que elas ainda não apresentem sinais de doença. Essa análise poderá permitir que recebam tratamentos atempados.

Os cientistas analisaram separadamente os casos de 7500 finlandeses e de quase 10 mil estonianos, à procura de marcadores biológicos com valor preditivo em termos do risco de morte. Após a recolha de sangue, a saúde desses dois grupos – representativos das respectivas populações gerais – foi acompanhada durante pelo menos cinco anos e as mortes em cada grupo devidamente registadas.

Nas amostras de sangue, os autores testaram, através da técnica de espectroscopia por ressonância magnética nuclear, 106 substâncias candidatas a marcadores de mortalidade prematura. Identificaram assim quatro substâncias relevantes, todas relacionadas com mortalidade por cancro, doença cardiovascular e outras doenças não vasculares. Porém, fazem notar, não é possível concluir que existe uma relação de causa da efeito entre os marcadores e a mortalidade prematura. São, por enquanto, apenas isso: marcadores.

Seja como for, quando os cientistas calcularam um índice de risco de morte baseado nesses quatro marcadores, constataram, no caso dos estonianos, que o risco de morte a cinco anos das pessoas com índices entre os 20% mais elevados era 19 vezes maior do que o das pessoas com índices entre os 20% mais baixos. No primeiro grupo tinha havido 288 mortes, contra apenas 15 entre no segundo.

Os resultados revelaram-se independentes de factores de risco conhecidos como sexo, idade, estilo de vida, pressão arterial ou níveis de colesterol, explica em comunicado a Universidade da Finlândia Oriental, que participou no estudo. E também permaneceram inalterados quando apenas foram consideradas as pessoas aparentemente saudáveis.

Os quatro marcadores biológicos agora relacionados com a morte prematura são: os níveis de albumina, de orosomucóide (uma proteína associada à inflamação) e de citrato (um derivado do ácido cítrico); e ainda o tamanho das chamadas "partículas de lipoproteína de muito baixa densidade" ou VLDP, que permitem a circulação no sangue das gorduras e do colesterol.

“O que é particularmente interessante é que este biomarcadores reflectem o risco de morrer de uma série de doenças muito diferentes, tais como doenças cardíacas ou cancro. Parecem ser sinais de uma fragilidade geral do organismo”, diz Johannes Kettunen, co-autor, da Universidade da Finlândia Oriental, citado no mesmo comunicado. A seguir, os cientistas tencionam determinar se existe alguma ligação entre esses quatro biomarcadores.

“Acreditamos que, no futuro, estas medições possam vir a ser utilizadas para identificar as pessoas que, apesar de parecerem de boa saúde, sofrem na realidade de doenças subjacentes graves, de forma a se conseguir orientá-las para os tratamentos adequados”, acrescenta Kettunen. “Porém, vão ser precisos mais estudos antes de ser possível aplicar estes resultados na medicina clínica.”

Sugerir correcção
Comentar