Onde está Viktor Ianukovich?

Em fuga desde o fim-de-semana, há todo o tipo de especulações sobre o paradeiro do Presidente deposto.

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Ianukovich é procurado por "homicídio em massa" Yannis Behrakis/Reuters

É talvez mais um dos hobbies mais recentes na Ucrânia: adivinhar o paradeiro do Presidente em fuga, Viktor Ianukovich. Tudo tem servido para alimentar várias teorias divergentes que, para já, têm poucos factos para as suportar. Está o odiado governante em Donetsk, a sua terra natal? Estará nalguma cidade portuária da Crimeia, província fortemente pró-russa? A bordo de um iate de luxo? A caminho da Rússia?

A última vez que foi avistado foi no domingo à noite, enquanto saía da sua residência em Balaclava, uma pequena cidade no mar Negro, na província da Crimeia, de acordo com o actual ministro interino do Interior, Arsen Avakov. Ianukovich estaria apenas acompanhado de um pequeno grupo de guarda-costas que se voluntariou a segui-lo.

No dia seguinte, a Justiça ucraniana emitia um mandado de captura para Ianukovich sob a acusação de “homicídio em massa”. O Parlamento, tomado por um fervor revolucionário e já sem a presença de grande parte dos deputados mais fiéis ao ex-Presidente, aprovou um conjunto de diplomas que inverteram o sistema político e nomearam um novo governante que ficará em funções até 25 de Maio.

Na noite de sexta-feira, Ianukovich saiu da sua mansão de Kiev e voltou a aparecer na televisão no sábado, em local desconhecido, para afirmar que iria permanecer no cargo. Atirava acusações à oposição e anunciava que ia viajar para o sul e leste do país para recolher apoios. O ainda Presidente esteve em Kharkov e depois dirigiu-se de helicóptero para Donetsk, o seu principal feudo.

Alguns relatos dão conta de uma tentativa falhada de fuga para o estrangeiro. Ianukovich terá tentado subornar os responsáveis do aeroporto de Donetsk, mas os guardas fronteiriços impediram-no de abandonar o país por lhe faltarem alguns documentos. Foi nesta altura que a sua comitiva se fez à estrada e se dirigiu para a Crimeia. O destino da viagem de mais de 400 quilómetros era o aeroporto militar de Sebastopol, mas sabendo que o recém-empossado ministro do Interior estaria no local, Ianukovich mudou de planos. Para onde terá ido então?

Foi precisamente Avakov que informou que o ex-Presidente, juntamente com o seu antigo chefe da Administração, Andrei Kliuiev, abandonaram Balaclava em três carros “em direcção desconhecida”.

Uma televisão local, citada pelo The Guardian, afirma que Ianukovich fugiu a bordo de um navio militar russo, que terá saído do porto de Sebastopol, no mar Negro, em direcção à Rússia. No entanto, os responsáveis do porto negam ter quaisquer informações que o comprovem.

Outras versões dão conta do súbito desaparecimento do iate Bandido, que pertence a um dos filhos de Ianukovich, Oleksander. Desde 11 de Fevereiro que o Bandido não aparece nos radares. Oleg Zakapko, um dos líderes dos protestos de Kharkov, afirmou a um jornal canadiano que o Presidente teria seguido para Ialta, também na Crimeia.

Esta terça-feira, um assessor de Kliuiev revelou que o ex-dirigente foi baleado numa perna, não correndo risco de vida, mas não foi confirmado se estaria com Ianukovich.

E há ainda o rumor, de pendor mais romântico, que o ex-Presidente estará algures num mosteiro no Leste do país. Para quem gostar de verdadeiras teorias da conspiração, existe a especulação da Gazeta Russa, próxima do Kremlin, de que a Administração norte-americana concedeu asilo a Ianukovich, como paga pela assinatura do acordo com a oposição.

A única certeza é a de que de um governante odiado pelos manifestantes da Praça da Independência Ianukovich passou a ser desprezado mesmo nos meios que lhe eram mais próximos. O Partido das Regiões, por exemplo, não se coibiu em apelidar a sua fuga de “cobarde” e responsabilizou-o pela violência da repressão policial das últimas semanas.

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