Dupla explosão em Beirute volta a visar o Hezbollah

Explosões, na proximidade de um centro cultural iraniano, provocaram seis mortos. É o sétimo ataque do género desde Julho.

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Forças de segurança e civis tentam extingir um dos incêndios provocados pela explosão Issam Kobeisi/Reuters
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A dupla explosão deixou vários focos de incêndio Mahmoud Kheir/Reuters

Seis mortos, incluindo os dois bombistas suicidas, e cerca de uma centena de feridos foi o resultado de um atentado contra o movimento xiita libanês Hezbollah, em Beirute. Sunitas radicais dizem querer punir o apoio do Hezbollah ao Presidente sírio, Bashar al-Assad, na guerra civil do país vizinho. O Líbano, esse, parece estar sempre a um passo do abismo.

O ataque desta quarta-feira foi o sétimo atentado deste género desde Julho. Com cerca de 160 quilos de explosivos, um carro e uma mota aproximaram-se do alvo, um centro cultural iraniano no Sul da capital, zona que é considerada um bastião do Hezbollah, e fizeram-se explodir, mesmo na hora de ponta.

Os vidros das janelas de um orfanato, gerido por uma associação sunita, ficaram estilhaçados com a força da explosão. “Bomba, bomba”, gritavam as crianças, contou a Reuters. Um vendedor de doces disse que todo o quarteirão tremeu com a explosão, que provocou focos de incêndio, destruiu vários carros, deixou crateras na rua, e uma coluna de fumo visível em toda a cidade.

As Brigadas Abdullah Azzam, ligadas à Al-Qaeda, reivindicaram o atentado na sua conta de Twitter, prometendo mais ataques para castigar o Hezbollah pelo seu papel na guerra na Síria.

No local do ataque, um deputado do Hezbollah não demorou a garantir, em declarações aos jornalistas, que o grupo não mudará de estratégia. "O Hezbollah não vai retirar-se de uma batalha que considera necessária a um nível estratégico", declarou Ali Ammar.

O primeiro-ministro, Tammam Salam, que finalmente conseguiu formar um governo no fim-de-semana, depois de onze meses de impasse, condenou o ataque. “Numa altura de atmosfera positiva que se seguiu à formação do Governo, o terrorismo deu um novo golpe ao Líbano com esta bomba, que sublinha a determinação das forças do mal para atingir o Líbano e os seus cidadãos e semear a discórdia”, disse.

A questão agora, como diz a estação de televisão Al-Jazira, é “se cada explosão é um ponto num jogo ou o início de uma nova guerra civil” como a que o país viveu entre 1975 e 1990. “Até agora os principais líderes políticos, incluindo o Hezbollah, mostraram um interesse claro em impedir uma escalada”, comentou Benedetta Berto, co-autora do livro Hezbollah and Hamas: A Comparative Study, à Al-Jazira. “Mas a situação actual é muito perigosa para o país”. Ainda que o Hezbollah esteja interessado em ajudar Assad, para o grupo a presença forte no Líbano é ainda mais vital. “Os ataques recentes foram uma espécie de golpe à sua reputação de invencibilidade.”

Não é só o facto de as lealdades libanesas estarem divididas nas mesmas linhas do que a guerra na Síria. É também a grande presença de refugiados, ainda por cima num país que nunca soube gerir outra grande população de deslocados, os palestinianos (cerca de 400 mil, metade dos quais ainda hoje numa dezena de campos espalhados pelo país).

Os refugiados sírios entram a um ritmo cada vez maior, e mais de 900 mil já foram registados pelo alto comissariado da ONU para os refugiados (ACNUR) – quase uma em cada quatro pessoas no Líbano são sírias. O ACNUR prevê que no final de 2014 haja 1,5 milhões de refugiados sírios no Líbano. “A crise dos refugiados sírios criou um sentimento de medo na sociedade libanesa, que é parcialmente ancorado no falhanço do país em gerir a crise de refugiados palestinianos”, diz o perito em política libanesa a viver nos EUA Georges Sassine também à Al-Jazira.

“Incomoda-me que estejamos a digerir este estado anormal de coisas, que não estejamos a ser capazes de confrontar os problemas de frente e evitar o próximo assassínio”, comentou à BBC Ronnie Shatah, 32 anos, cujo pai, Moahmmed Shatah, um antigo ministro das Finanças, foi assassinado no final de 2013. E, referindo-se à capacidade dos libaneses levarem a sua vida normal apesar de todas as circunstâncias difíceis, disse: “Estamos a dançar à beira do abismo.”

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