Lusófona “tranquila” perante queixa-crime anunciada pelos pais das vítimas do Meco

Vice-reitor pede "serenidade" e menos ruído em torno do caso. Já o administrador da universidade ameaçou avançar com uma queixa por calúnia contra os pais dos estudantes, uma intenção mais tarde desmentida pela instituição.

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Universidade marcou para sexta-feira uma missa em homenagem aos seis jovens mas a maioria dos familiares não apareceu Helder Olino

O vice-reitor da Lusófona, Carlos Poiares, garantiu nesta sexta-feira à noite que a universidade está “tranquila” perante o anúncio feito pelo advogado dos familiares dos seis estudantes que morreram na praia do Meco, de que vão apresentar uma queixa-crime contra a instituição. O responsável, que admitiu à TSF ter sido apanhado de surpresa, considera que há demasiado ruído em torno do caso.

“A universidade está tranquila, as pessoas são livres em Portugal de intentar acções judiciais, criminais, cíveis, de qualquer espécie ou natureza”, disse Carlos Poiares à TSF nesta sexta-feira à noite. Os pais dos estudantes decidiram apresentar queixa-crime na próxima semana contra a universidade e contra o dux João Gouveia, único sobrevivente da tragédia. “Quem invoca um facto deve prová-lo”, reage o vice-reitor.

“Nós aguardamos sem qualquer espécie de preocupação. Este caso preocupa-nos muito e a toda gente, pelas mortes que existiram, e pelos danos que aconteceram a nível psicológico, das famílias dos falecidos, mas também da vítima sobrevivente”, declarou, acrescentando que “não há qualquer comentário mais a fazer”.

Em declarações à Lusa neste sábado, o administrador da universidade admitiu que poderá avançar com uma queixa por calúnia, caso a queixa-crime dos familiares dos estudantes seja "caluniosa ou ofensiva" para a instituição. "Qualquer cidadão tem o direito a fazer uma queixa, desde que fundamente a acção e cumpra a lei. Mas, caso haja algo de calunioso ou ofensivo dos direitos e bom nome, nós também teremos o direito de ir a tribunal fazer queixa de quem nos caluniar", afirmou Manuel Damásio.

"Se somos atacados temos direito a defender-nos, mas ainda não conhecemos nada de concreto. Estamos a especular", sublinhou, defendendo que a Lusófona tem sido a "principal vítima do circo mediático em torno desta tragédia". No entanto, algumas horas depois das declarações de Manuel Damásio, a Lusófona emitiu um comunicado a "desmentir categoricamente qualquer intenção dessa natureza [de apresentar a queixa por calúnia]".

Na nota, a instituição apela para que "todos os envolvidos"  deixem actuar as entidades competentes de modo "aclarar o que haja a aclarar para que, com seriedade e dignidade, se possa contribuir para mitigar uma dor que a muitos atingiu". Reafirma ainda que a universidade está "serena" e "completamente disponível" para prestar esclarecimentos às autoridades.

Elementos com "matéria criminal"
O advogado das famílias, Vítor Parente Ribeiro, disse na sexta-feira ao PÚBLICO que a decisão de apresentar uma queixa-crime, tomada na sexta-feira, baseou-se não só no facto de ainda não haver uma resposta sobre o pedido para os pais se tornarem assistentes no processo, entregue há 12 dias no Tribunal de Almada, mas também porque os familiares recolheram “uma série de elementos” que entendem ser “matéria criminal”.

Entre eles estão, segundo o advogado, alguns revelados pela TVI, que dão conta da existência de documentos escritos por uma das vítimas que revelam que dez pessoas, e não sete, seriam esperadas no fim-de-semana do Meco. A mesma jovem terá deixado escritas referências a um fim-de-semana na Serra da Arrábida, no qual apenas duas das vítimas do Meco terão participado, e para o qual estariam a ser planeadas praxes como rastejar, andar pela serra, pelo cemitério e comer comida de gato, além da alusão a álcool.

Segundo Vítor Parente Ribeiro, os familiares entendem que a Lusófona é a “entidade a quem compete controlar estes organismos [COPA]”, que existem no seio “da própria universidade” e que “tem conhecimento da sua existência”.

“Não vou comentar o que o advogado diz porque a lei até proíbe de fazer comentários sobre processos em curso”, afirmou na sexta-feira à TSF o vice-reitor Carlos Poiares. Este responsável entende que há demasiado ruído em torno do caso. “Acho que o momento é de mantermos serenidade e de evitarmos uma certa poluição que tem existido em torno deste assunto. Pela minha parte vou remeter-me ao silêncio”, rematou.

Neste sábado passam exactamente dois meses sobre o acidente que vitimou, na madrugada de 15 de Dezembro, seis jovens estudantes da Universidade Lusófona, que terão sido arrastados por uma onda na praia do Moinho de Baixo. A PJ de Setúbal já realizou a reconstituição do cenário de tragédia. A diligência, de acordo com o que fonte da PJ confirmou ao PÚBLICO, foi feita na madrugada desta sexta-feira.

Os investigadores estiveram no areal e na casa que os jovens tinham arrendado em Aiana de Cima. A reconstituição terá sido feita com base em informações prestadas pelo sobrevivente, que já foi ouvido pela polícia enquanto testemunha.

A PJ realizou diligências durante duas horas na praia para tentar perceber as circunstâncias em que morreram os dois rapazes e quatro raparigas. João Gouveia continua a rejeitar que as mortes estão relacionadas com ritual de praxe, assegurando que tudo não passou de um acidente.

Notícia actualizada às 13h54 e às 16h28: acrescenta comentário do administrador da Lusófona e cita o comunicado mais tarde emitido pela instituição


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