Primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, demite-se

O líder da esquerda, Matteo Renzi, tinha pedido "um novo executivo".

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Letta estava à frente do Governo italiano desde 28 de Abril do ano passado. AFP

O primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, demitiu-se esta quinta-feira à tarde. Foi o desfecho de um braço de ferro com o líder do Partido Democrático, Matteo Renzi, que dissera, pouco antes: “É necessário e urgente abrir uma nova fase [na política italiana] com um novo executivo apoiado pela actual maioria."

A demissão foi tomada imediatamente após a direcção do PD, reunida desde manhã, aprovar por larga maioria uma moção dando poder a Renzi para pedir ao Parlamento a mudança do Governo. 

"Na sequência das decisões tomadas pela direcção nacional do Partido Democrata, informei o Presidente da minha vontade de ir amanhã ao Qirinal [sede da presidência] apresentar a demissão", disse Letta em comunicado.

“É a batalha final. Estamos no derradeiro round do jogo entre Enrico Letta e Matteo Renzi. E a direcção do PD confirmará as críticas ao governo”, lia-se de manhã no site do jornal La Reppublica, próximo do PD.

Letta estava à frente do Governo italiano desde 28 de Abril do ano passado, tendo sucedido ao tecnnocrata Mario Monti, cuja equipa caiu com a crise aberta na coligação pelo partido de Silvio Berlusconi. O governo Letta era sustentado por uma coligação entre o PD e o centro-direita (minoritário na aliança).

Toda a imprensa italiana da quinta-feira já considerava a partida de Letta iminente — Renzi optou pel discurso de  ruptura porque Letta o fez primeiro, diziam os analistas. Na quarta-feira, Letta apresentara, numa conferência de imprensa, um programa de governo que foi visto com o um desafio à esquerda e a Renzi.

Na altura, Letta recusava  a ideia de se afastar voluntariamente, abrindo caminho a Renzi: “Sou um homem de instituições e romper a minha missão ao serviço do país não faz parte do meu DNA político”, disse, acrescentando ser sua convicção que Letta disse “os governos nascem no Parlamento" e, por isso, não iria ceder a "intrigas palacianas".  “Todos devem assumir as suas responsabilidades. Todos, e em especial o que quer o meu lugar, deve fazê-lo pondo as cartas na mesa”. 

“A impaciência de Renzi em tornar-se  chefe do governo é demasiado evidente”, comentou logo na quarta-feira Paolo Romani, chefe da bancada do Senado da Força Itália (o partido de Berlusconi que recuperou a antiga denominação para o centro-direita). 

Matteo Renzi, de 39 anos e presidente da câmara de Florença, multiplicou os ataques a Letta quando chegou à chefia do PD em Dezembro do ano passado. Acusava o primeiro-ministro de “falta de determinação” e de “fraqueza”. Letta, por seu lado, falava na "traição" do adversário — haveria um acordo entre os dois para manter o Governo em funções até ao fim de 2014, realizando-se depois eleições.

Antes da demissão de Letta, os analistas consideravam que Renzi estava a fazer um jogo muito arriscado porque ao derrubar o Governo e ascender à chefia do executivo por via parlamentar ficava com uma fraca legitimidade. O comentador do La Stampa, Giovanno Orsina (professor de ciência política em Roma), considera que Renzi deveria esperar e passar pelo teste das eleições para chegar ao poder.  

“Esta será apenas mais uma vez que o partido tomará decisões potencialmente suicidas. Gostava de os convidar á serenidade antes do momento fatídico. Mas seja qual for a escolha que façam, será má”, comenyava ao La Stampa o editorialista Massimo Gramellini.

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