Pequenos accionistas questionam proposta de reestruturação da Pescanova

Grupo galego revela buraco patrimonial superior a 1400 milhões de euros. Futuro do grupo motiva divisões entre grandes e pequenos accionistas.

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A Pescanova tem em Praia de Mira (distrito de Coimbra) uma unidade de pregado Adriano Miranda

A nova gestão da Pescanova, controlada pelo grupo cervejeiro Damm, prometia uma nova era para a empresa galega. Mas o plano de reestruturação desenhado para evitar a falência técnica da companhia pesqueira, em concurso de credores desde Abril, não gera consenso junto dos accionistas minoritários, que temem ficar sem representação no capital da empresa.

Nesta quarta-feira, dia em que era esperada uma decisão do conselho de administração sobre o futuro da empresa, um grupo de pequenos investidores (representado pela Associação Espanhola de Accionistas Minoritários de Empresas Cotadas) fez saber publicamente da sua discordância em relação aos planos da Damm.

Em causa está, segundo esta associação, uma oferta feita por um consórcio liderado pela cervejeira prevendo uma injecção de capital entre 250 a 300 milhões de euros que lhe daria o controlo de 51% do capital da Pescanova. Nesta operação, a Damm tem a seu lado outros accionistas de referência, os fundos Luxempart, KKR e Ergon Capital Partners.

De acordo com a imprensa espanhola, esta oferta propõe um corte draconiano no passivo da empresa, que supera os 3200 milhões de euros, e passa por uma conversão de dívida em capital, cabendo 49% do capital a bancos credores.

Para os pequenos accionistas, que sentem ameaçada a sua presença na estrutura accionista da Pescanova, estas condições são feitas “à medida de uns” e só beneficiam um grupo restrito de accionistas.

O controlo de gestão está agora nas mãos da Damm, que em Setembro colocou na presidência da Pescanova Juan Manuel Urgoiti, depois de o histórico herdeiro Manuel Fernández de Sousa ter saído de cena. Ao conselho de administração que cabe dar aval à oferta do consórcio liderado pela Damm. E para isso devem pronunciar-se os conselheiros independentes e a Deloitte (consultora nomeada para a administração na fase de concurso de credores). À parte da presença de outros representantes na gestão do grupo, aos pequenos accionistas causa perplexidade o facto de ser a equipa executiva proposta pela Damm a “decidir aprovar uma oferta apresentada pelo seu próprio grupo”.

Com um buraco patrimonial e um passivo astronómicos, a Pescanova está desde Abril em concurso de credores e procura, agora com a nova equipa de gestão, recuperar a credibilidade perdida quando vieram a público as irregularidades nas contas e as suspeitas de manipulação de resultados.

As contas de 2012 foram apresentadas esta semana e deixam a nu a necessidade de uma reestruturação. O grupo apurou um prejuízo de 791,4 milhões de euros, depois de perdas de 260 milhões em 2011. Apresentou ainda um buraco patrimonial de 1487 milhões de euros, um valor inferior ao que a Deloitte tinha referido em Setembro, mas muito acima ao estimado meses antes pela consultora KPMG, quando a empresa já tinha reconhecido a prática de irregularidades.
 
 
 
 
 
 

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