É um exagero comparar o Porto a Havana e Detroit

Havana e Detroit, para mim, será sempre exagerado – e, com isso, não estou a defender as políticas do país ou a romantizar os tempos que se vivem, longe disso.

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Detroit / Reuters

As viagens de opinião não são viagens rectilíneas, são inversas a isso mesmo. O que me arrufou no artigo do Nigel Cassidyna BBC não foi um absolutismo romântico do meu país, nomeadamente da cidade do Porto, que eu possa ter; foi o não assumir de opinião, numa reportagem que, no meu entender, foi de opinião.

Obviamente, li todo texto, as declarações de pessoas vivas e reais do Porto, tal como das realidades que ele retrata e que não são falsas. Simplesmente, não me revi numa reportagem de meia-verdade e com adjectivação excessivamente danosa. Uma das frases mais pisadas e repisadas é a que o copo está meio cheio ou meio vazio, mas se é tão comumente utilizada é, exactamente, por tudo o que acarreta de verdade nela.

Se o referido jornalista tivesse vindo falar comigo, também eu teria muitas críticas a fazer à situação do país, ao que de mau tem no nosso quotidiano o efeito da austeridade, ou até às coisas que deveriam melhorar e não melhoram. No entanto, pergunto-me: seria somente isso que tinha a dizer? O que nos é questionado influencia o que respondemos.

Conforme referi no meu primeiro texto acerca deste assunto, o objectivo da reportagem era retratar o peso da austeridade na cidade do Porto e contra isso nada, contrario apenas a visão toldada que de lá vinha a propósito de alcançar esse objectivo e a forma encontrada de o fazer.

Conforme me acusaram de não olhar aos estabelecimentos que fecham, porque não poderíamos nós acusá-lo de não olhar aos que foram remodelados, ou aos que abriram? Também são reais, julgo, e o artigo dele deveria ser informativo, o que comporta enquadramento. Não deixando, com isso, de sentir na pele os tempo os difíceis, mas não ao ponto de nos colocar numa situação semelhante a Havana, ou Detroit. O exagero está em dois exemplos, mas que definem uma leitura inteira numa peça jornalística.

O meu objectivo com a comparação ao futebol não era equiparar assuntos, era reflectir na importância que atribuímos ao patriotismo. Não estou satisfeito com as políticas que atacam o elo mais fraco da sociedade, como não deixo de gostar de futebol.

Simplesmente, disponho-me a dar atenção patriótica a ambas as partes. Não me considero alheado da realidade por isso, considero, sim, que me fizeram críticas bastante legítimas por eu atingir apenas meias-verdades, o que de certo modo me deixa feliz, pois ampliou o referido artigo.

Ele deu a meia-verdade do mau, eu dei a meia-verdade do bom. Qual o mais certo e qual o mais errado? Talvez os dois, talvez nenhum. Agora, Havana e Detroit, para mim, será sempre exagerado – e, com isso, não estou a defender as políticas do país ou a romantizar os tempos que se vivem, longe disso.

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