Os escritores online

Na internet, como em tudo o resto, existem problemas, no entanto, pelos indicadores, diria que existem mais vantagens que agruras, para os escritores.

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gileslane/Flickr

São comuns as conversas sobre qual o peso das novas tecnologias na literatura. "Nada pode substituir aquele cheiro do papel", será, porventura, das frases mais escutadas. Será ela verdade? 

É certo que a preocupação é legítima, nomeadamente, pela possível difusão integral de publicações na internet. Um pouco à imagem do que sucede com a indústria musical, fenómeno que, sem sucesso, se tentou travar. Com a diferença de, neste caso, os concertos lograrem ser a recompensa dessa usurpação, como comprova a posição de grandes músicos internacionais em relação ao SOPA. Será então possível a comparação da literatura com a música? Eu diria que, em parte, sim. 

Vejamos: qual é o grande motivo para alguns dos maiores nomes da música serem a favor do “roubo” dos seus direitos? A forte notoriedade, que advém dessa difusão, principalmente nas redes sociais.

Começa a tornar-se comum - como atestam a Ana Free e Mia Rose, em Portugal – o aparecimento de novos artistas pelo youtube. Dessa forma, os que já alcançaram altos níveis de aceitação, percebem que devem manter-se atentos a essa evolução do consumo, de modo a não caírem no esquecimento.

Com a literatura, o nível de notoriedade poderá também ser alavancado através da Internet. Dois dos mais jovens, e consagrados, escritores portugueses da actualidade têm uma presença muito interessante e dinâmica nas redes sociais. Eu, confesso: sou magnetizado pela proximidade que essa interactividade cria. Falo de José Luís Peixoto (JLP) e Valter Hugo Mãe (VHM).

Recentemente, por exemplo, o próprio JLP difundia parte de uma crónica, sua, no Facebook, e pouco tempo depois estava próximo dos 500 likes e das 100 partilhas. VHM, por sua vez, avisava, no mesmo dia, que de tarde estaria indisponível por estar a terminar um texto, conseguindo em menos de uma hora mais de 20 likes. Sendo ainda possível ver outras pessoas do panorama cultural e do entretenimento ajudarem a essa disseminação. Bruno Nogueira publicava uma crónica de Miguel Esteves Cardoso, acerca das boas notícias em relação à doença da sua mulher, que ultrapassava as mil pessoas a gostarem e as 100 a compartilharem. Conseguem imaginar o alcance destas publicações? 

      

Não é de descurar um estudo do Observatório das Actividades Culturais (OAC) que demonstrava um aumento significativo das editoras em Portugal durante a anterior década. Década, essa, que foi onde se cimentou o mundo virtual. Na internet, como em tudo o resto, existem problemas, no entanto, pelos indicadores, diria que existem mais vantagens que agruras, para os escritores. 

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