Casa da Música vira-se para o Oriente e terá Laginha como curador externo

A Leste tudo de novo é o subtema do programa que vai atravessar todo o calendário de eventos da instituição portuense no próximo ano. Mário Laginha vai “mandar” na Casa em Junho.

O Ballet Royal do Cambodja vai actuar na Sala Suggia no dia 7 de Maio
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O Ballet Royal do Cambodja vai actuar na Sala Suggia no dia 7 de Maio DR
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A compositora residente a compositora residente Unsuk Chin
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A Cheongju City Dance Company
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Mário Laginhja Manuel Roberto

A música do Oriente vai estar em foco na Casa da Música, em 2014. A compositora sul-coreana Unsuk Chin, o maestro e instrumentista japonês Masaaki Suzuki, o pianista chinês Yundi Li, a Orquestra de Música Chinesa, o Ballet Real do Cambodja, a Cheongju City Dance Company, da Coreia do Sul, são alguns nomes da lista de artistas e grupos que vão trazer ao Porto as sonoridades desse mundo longínquo, mas cada vez mais próximo de nós, nestes tempos de globalização.

“Achei que era interessante fazer um interregno no conceito de país-tema, que temos vindo a privilegiar desde 2007, para ir ao encontro desse Oriente vastíssimo, que desde há muito tempo está ligado ao inconsciente colectivo português”. António Jorge Pacheco, director artístico da Casa da Música, justifica assim a âncora da programação para o próximo ano, que foi apresentada ao final da tarde desta sexta-feira numa conferência de imprensa aberta ao público realizada na Sala Suggia.

Em declarações ao PÚBLICO, antes da conferência de imprensa, Pacheco evoca a presença que o orientalismo – e o exotismo que sempre lhe andou associado – teve na cultura ocidental e na própria história da música, principalmente desde o século XVIII. E cita, como exemplo, as óperas O Rapto no Serralho, de Mozart, e O Turco em Itália, de Rossini, além de outras turqueries da época. Nota, em contrapartida, “o fenómeno de ocidentalização” que começa a verificar-se na música, no Oriente, na viragem dos séculos XIX-XX, quando esta começa "a apropriar-se do cânone ocidental e a abrir conservatórios e novos palcos”.

"Na actual realidade sócio-económica e civilizacional, as grandes potências emergentes estão no Oriente, e isso manifesta-se também culturalmente, e na indústria musical”, diz o director artístico. Mas esclarece que a atenção a este universo em 2014 não foi motivada por qualquer procura da “árvore das patacas”, a compensar a manutenção do corte de 30% na dotação do Estado à Fundação Casa da Música – que para 2014 vai contar de novo com apenas sete dos dez milhões de euros contratualizados. Uma realidade que irá ser compensada com "a diminuição, em “cerca de 16%, do número de concertos, mas mantendo sempre a mesma exigência de qualidade", promete Pacheco.

“O Oriente já estava na minha mente há alguns anos”, justifica o programador, admitindo, no entanto, que esta escolha traz “um efeito colateral positivo” com o financiamento suplementar que as embaixadas e instituições culturais desses países concedem às digressões dos seus músicos e formações.

Associado ao Ano Oriente, a Casa da Música alinhavou o subtema A Leste tudo de novo, destinado a fazer redescobrir mundos musicais para lá das fronteiras da Europa com a Ásia. Esta programação abre no fim-de-semana de 17 a 19 de Janeiro, com uma sucessão de concertos da Orquestra Sinfónica, do Coro e do Remix, mas também do Ensemble Gamelão e até de uma fadista originária da Japão, Kumico Tsumori. Em destaque nos seus reportórios estará Unsuk Chin, a sul-coreana desde há anos radicada em Berlim, e que será a compositora em residência no Porto.

Outro residente na Casa, como “artista em associação”, vai ser o húngaro Peter Eötvös, “a grande figura actual da música na dupla qualidade de músico e compositor, agora que Pierre Boulez deixou de estar no activo”, assinala Pacheco.

Num alinhamento que vai manter os eventos que ou vêm já de trás ou foram lançados em 2013 – que foi “o ano charneira na organização e introdução de novos ciclos temáticos na Casa", nota o director artístico –, destaca-se, como novidade, A Casa do Mário (8-15 Julho), um convite endereçado a “um curador externo”, que em 2014 será Mário Laginha, que vai tocar com a Orquestra, o Remix e o seu trio de jazz (com Julian Argüelles e Helge Norbarkken), além de apresentar, como valor emergente, o quarteto do jovem saxofonista Ricardo Toscano.

No já consagrado Ciclo de Piano, registe-se mais um regresso de Grigori Sokolov (18 Março). “Ele é quase também um ‘artista residente’, e dos poucos recitais que realiza em cada ano faz questão de voltar sempre à Casa da Música”, diz Pacheco.

Em estreia no palco Suggia, e a abrir este ciclo (7 Janeiro), vai estar Rafael Kyrychenko, um pianista nascido em Portugal. Também em estreia no Porto estarão a ucraniana Valentina Lisitsa (21 Outubro), que é um fenómeno "no Youtube já com cerca de 30 milhões de visitas"; e a consagrada pianista russa Elizabeth Leonskaja (7 Dezembro).

O ciclo Música & Revolução do próximo ano (25 de Abril-1 de Maio) vai assinalar o centenário do início da 1.ª Guerra Mundial e os 40 anos da Revolução dos Cravos. Será dedicado ao tema do Conflito, vai envolver os vários agrupamentos residentes e terminar com o regresso ao Porto do músico nascido em Sarajevo Goran Bregovic, com o concerto Champagne for Gypsies.

Em 2014 regressa também o ciclo Invicta.Música.Filmes (7-15 Fevereiro) com um programa que inclui três filmes-concerto, entre os quais ressalta a exibição de dois filmes mudos de 1929: Die Frau nach der man sich sehnt (traduzível por A Mulher Por Quem Se Anseia), de Curtis Bernhardt, com Marlene Dietrich, e A Nova Babilónia, de Grigori Kozintsev e Leonid Trauberg, para o qual Chostakovitch compôs depois uma banda sonora, e que vai ser interpretada pela Sinfónica.

Cinco momentos para 2014<_o3a_p>

O director artístico da Casa da Música identifica cinco momentos fortes da programação, mesmo se chama a atenção para a dificuldade de escolher entre mais de uma centena de eventos.<_o3a_p>

A Leste tudo de Novo (17-19 de Janeiro): É a abertura do ano do Oriente e a apresentação de “uma nova forma, transversal, de organizar a programação”. A Sinfónica e o Remix interpretam Unsuk Chin. Pacheco destaca também a execução da Suite Cita de Prokofiev, “dedicada ao povo nómada cita no Irão”.<_o3a_p>

Música & Revolução (25 de Abril – 1 de Maio): Um ciclo dedicado ao tema do Conflito. Tem várias obras sobre o tema da guerra. Três exemplos: Um sobrevivente de Varsóvia, de Schönberg; Três excertos de Wozzeck, de Alban Berg; e A história do soldado, de Stravinski.<_o3a_p>

A Casa do Mário (8-15 de Julho): “É uma novidade, convidarmos um curador externo para programar uma semana na Casa”. Laginha vai tocar com a Sinfónica, o Remix, o seu trio de jazz e apresentar o saxofonista Ricardo Toscano.<_o3a_p>

Peter Eötvös (1 de Maio, 1 de Novembro): O “artista em associação” húngaro é “a grande figura actual da música na dupla qualidade de músico e compositor”, diz Pacheco. Vai dirigir o Remix e a Sinfónica.<_o3a_p>

Invicta.Música.Filmes (7-15 de Fevereiro): No programa ressalta o cine-concerto com um filme de Marlene Dietrich, Die Frau nach der man sich sehnt (1929). E outro filme mudo, A Nova Babilónia, para o qual Chostakovitch compôs uma banda sonora.
 
 
 

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