Julgamento do caso Bolshoi foi adiado

O alegado mandante do ataque ao director artístico da companhia russa volta a dizer aos jornalistas que não se considera culpado. Os três acusados regressam a tribunal a 29 de Outubro.

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Pavel Dmitrichenko esta terça-feira no tribunal Kirill Kudryavtsev/AFP

Este enredo real deveria ter conhecido esta terça-feira mais um capítulo com o início do julgamento de Pavel Dmitrichenko na capital russa, mas a sessão foi adiada para 29 de Outubro, por ter faltado o advogado de defesa de um dos três acusados.

Dmitrichenko, um bailarino de 29 anos, é o alegado mandante do ataque a Filin, mas, garantia a sua defesa à entrada do tribunal, há importantes atenuantes a ter em conta. Diz o advogado Serguei Kadyrov que o seu cliente “não se sente responsável por ter causado grandes danos à saúde de Filin”, porque, embora tenha já assumido que ordenou a agressão ao director artístico, estava longe de pensar que esta envolveria ácido.

Citado pela agência de notícias Reuters, Kadyrov admitiu recear que toda a atenção mediática venha a impedir que o julgamento se faça num clima sereno, mas que espera que o tribunal consiga distanciar-se da “ressonância” do caso para proferir um “veredicto bem fundamentado e justo”.

Dmitrichenko, que está detido desde Março, e os seus cúmplices – dois homens que terão executado o seu plano – podem ser condenados até 12 anos de prisão. Yuri Zarutsky terá lançado o ácido à cara do director, Andrei Lipatov ter-se-á limitado a conduzir o carro que levou o agressor até Filin.

“Cometeu-se um crime. E tem de ser resolvido. Se ficar provado que Pavel é culpado, deve ser castigado”, disse na segunda-feira a porta-voz do Bolshoi, Katerina Novikova, classificando como “trágica” a situação que envolve alguns dos membros da companhia.

Dmitrichenko chegou esta terça-feira ao tribunal moscovita algemado, tal como os alegados cúmplices. “Não admito que sou culpado”, disse aos jornalistas enquanto era conduzido à sala de audiência, recusando-se a responder a perguntas.

Escândalo atrás de escândalo
A 17 de Janeiro, Serguei Filin preparava-se para regressar a casa quando um homem encapuçado o atacou, lançando-lhe um líquido à cara que, viria a provar-se mais tarde, era ácido sulfúrico. Zarutsky e Lipatov fugiram, deixando-o no chão, sobre a neve, a pedir ajuda. O que se passou a seguir encheu páginas de jornais: os tratamentos de Filin fora da Rússia, os receios de que ficaria completamente cego e as acusações de que favorecia alguns bailarinos na hora de atribuir bolsas, feitas pelo próprio Dmitrichenko, quando em Março admitiu em tribunal que mandara Zarutsky “intimidar” o director artístico.

À medida que se revelavam mais pormenores sobre os contornos e antecedentes desta agressão iam-se recuperando outras histórias de bastidores da companhia que expunham decisões aparentemente arbitrárias e um enorme mal-estar entre a direcção e os bailarinos.

O escândalo, lembra esta terça-feira a Reuters, teve repercussões ao longo dos últimos meses – Filin mantém-se em funções, mas o director-geral do teatro, Anatoly Iskanov, foi despedido pelo Governo em Julho, e uma das antigas estrelas do Ballet Bolshoi, Nikolai Tsiskaridze, foi afastado. Segundo a AFP e o jornal norte-americano The New York Times, Filin tinha fortes suspeitas de que Tsiskaridze, seu rival na corrida à direcção, estaria por trás de Dmitrichenko, seu protegido, a instigá-lo.

Depois de oito meses de tratamento que envolveram mais de 20 cirurgias, sobretudo na Alemanha, Serguei Filin recuperou parcialmente a visão e a pele do rosto. Regressou ao teatro a meio de Setembro para apresentar a sua programação para a nova temporada, que inclui, entre outros, os bailados Marco Spada e A Dama das Camélias. Como tem pela frente várias intervenções cirúrgicas, não é ainda claro quanto tempo vai Filin passar no teatro, embora seja já certo de que vai voltar a viver em Moscovo.
 
 
 

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