Lisboa fabrica-se

A LX Factory deverá ser, arrisco-me a dizer, o espaço citadino mais fotogénico de toda a capital. Se conseguisse, fotografaria tudo

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Pedro Soenen

Lisboa tem o condão de conseguir criar ambientes estimulantes em espaços outrora abandonados ou simplesmente esquecidos, revitalizando-os ao ponto de os integrar de pleno direito nos roteiros de sítios a visitar.


A LX Factory é um espaço renascido das ruínas de antigas fábricas. Está em constante mudança, mas sempre mantendo as características originais, o que configura uma ambiência que alterna entre a presença maciça de equipamentos industriais e a delicadeza do design de autor, entre infraestruturas colectivas e recantos de afirmação pessoal, entre vestígios de uma cidade antiga e marcas de uma moderna, entre uma polis da máquina e uma do homem.

Muitas foram as empresas e espaços que aqui se implantaram quase à beira-rio, originando uma verdadeira fábrica — aqui sinónimo de laboratório —, de ideias e experiências onde é possível estar em contacto diário e directo com a criatividade ali tão patente. Um espaço com vida própria que vai crescendo com a cidade e com as pessoas e que podemos ir acompanhando ao frequentar o seu comércio local, de que posso destacar a fabulosa livraria Ler Devagar ou as suas feiras regulares. Trata-se de um laureio para nós recorrente, até porque gosto sempre de matar as saudades dos tempos em que trabalhei no Cowork Lisboa.


Sabendo que o piso é irregular e para solavancos já basta aqueles que a vida nos dá, optámos por levar a Guadalupe às costas do pai, sentada na sua mochila tão confortável. Para almoçar, escolhemos o Sushi Factory, um restaurante muito simpático, com uma decoração despojada e um atendimento de cinco estrelas! A opção de “all you can eat” permitiu-nos comer uma sopinha de “miso” e uma variada porção de Sushi fresquinho por um preço bastante aceitável. A Lupe, sentada numa cadeira para bebés do próprio espaço, esteve sempre muito atenta aos movimentos dos pauzinhos, e de tanto os ver mexer quase que ficava com os olhos em bico! Apesar de não ter surgido o Mom-Alert, não pude deixar de ir espreitar a casa de banho. Inevitavelmente, por causa da logística maternal, acho que criei uma espécie de cisma no que toca a WCs! Integrada na construção do que outrora foi um espaço fabril, era muito simples e ampla, apenas com as condições básicas de um WC comum de fábrica. Portanto, ali seria de todo impossível tratar de fraldas...


Após a generosa dose de sushi, fomos passear pelas imediações e em cada canto descobrimos pormenores que dão imensa vontade de registar! A Lupe fica sempre encantada com as cores vivas dos murais. A LX Factory deverá ser, arrisco-me a dizer, o espaço citadino mais fotogénico de toda a capital. Se conseguisse, fotografaria tudo: as cores, as sombras, os murais, os detalhes da arquitectura industrial, a vista sobre a ponte, as pessoas, os interiores arrojados de todos os espaços! Estar ali é como estar no coração de uma cidade imaginada, onde encontramos, por entre muros decorados, a electricidade própria do encontro produtivo de mentes criativas. Que cresça e se multiplique.

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