Imunidades climáticas

A iniciativa é excelente e a cidade precisa de recuperar os espaços abandonados e dinamizá-los, dando-lhes nova vida e cores. Fico é com pena que no Embaixada, uma vez mais, os miúdos sejam esquecidos como fonte de vida citadina

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Pedro Soenen

Os centros comerciais são o epítome do dilema maternal urbano móvel. Se por um lado estão normalmente equipados para receber os bebés e traquinas, possuindo bons acessos, WC’s específicos, fraldários com fartura, espaços para se entreterem, por vezes iluminados com luz natural e até rodeados de jardins, constituindo verdadeiros refúgios para as excitações climáticas... por outro lado não deixam de ser ambientes artificiais, sujeitos a ar condicionado e reciclado, propagadores naturais de germes e muitas vezes demasiado agitados para os mais miúdos. Sem grandes alternativas, a não ser o comércio local quando o há, o problema agudiza-se nos dias de compras, naturalmente. Será que a cidade não nos oferece mais alternativas? Recentemente, têm surgido algumas respostas, porém, sob a forma de espaços novos, mais pequenos, nascidos da reconfiguração de equipamentos urbanos semi-abandonados, dando-lhes uma nova vida. Significará isso que também sejam acolhedores para os mais novos?

Foi nesse espírito que resolvi levar a Guadalupe, na sua estreia num centro comercial, até ao Embaixada, que pretende ser um projecto comercial e de "lifestyle" no Príncipe Real e se encontra instalado no Palacete Ribeiro da Cunha. Aquando da nossa chegada, deparámo-nos com uma entrada pouco "baby-friendly", uma escadaria muito bonita que nos anunciava que afinal iríamos ter dificuldades. Com ajuda, foi possível passear pelo primeiro piso, onde pudemos encontrar logo uma loja infantil, a Organii Bebé. O palacete é realmente especial, com uma arquitectura de estilo neo-árabe, estando as lojas bem integradas nas suas respectivas assoalhadas. A restauração ocupa a zona central com inúmeras mesas, que dificultam a passagem com um carrinho, mas ainda assim existe um ambiente muito agradável. E tal como uma casa, também deveria ter uma casinha, pelo que fui logo em busca do fraldário! Esperançosa, vi a indicação da existência de um WC para pessoas com mobilidade reduzida, mas deparei-me com a ausência do equipamento respectivo e nada de fraldários... num WC tão grande! Pensando bem, como poderão as pessoas com deficiência motora sequer chegar lá? E se o conseguirem, como o poderão usar? Fiquei duplamente desapontada.

Enquanto explorávamos as lojas, chegaram mais mães com carrinhos de bebés... não querendo ficar limitada ao piso térreo, pedi ao papá para ficar com a Lupe no carrinho e subi a majestosa escadaria. O piso superior é igualmente elegante, com lojas saídas das páginas de um catálogo, com uma oferta pouco comum, onde a tradição se alia à criatividade. Aí também podemos encontrar um espaço dedicado à arte, promovendo exposições temporárias. Sejamos justos, a iniciativa é excelente e a cidade precisa de recuperar os espaços abandonados e dinamizá-los, dando-lhes nova vida e cores. Fico é com pena que uma vez mais, os miúdos sejam esquecidos como fonte de vida citadina. Quando a Guadalupe for grande, talvez as mentalidades tenham mudado e a cidade seja mais amiga dos seus bebés.

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