Líder de organização britânica de extrema-direita abandona movimento

A English Defense League promoveu ataques a mesquitas após o homicídio do soldado Lee Rigby. Decisão do líder da EDL é vista com algum cepticismo.

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Tommy Robinson considera que a organização que fundou se tornou demasiado extremista Andrew Winning/Reuters

O líder da organização britânica anti-islão English Defense League (EDL), Tommy Robinson, anunciou o seu abandono do grupo que fundou em 2009 por considerar que estaria a tornar-se demasiado extremista. O anúncio foi feito pelo think-thank Quilliam Foundation, que advoga a defesa dos direitos humanos e da igualdade religiosa e que terá “facilitado” a saída de Robinson.

A EDL ficou conhecida por organizar manifestações contra as comunidades muçulmanas no Reino Unido. A organização foi responsável por vários ataques a mesquitas na sequência do homicídio do soldado Lee Rigby, em Maio.

“Reconheço os perigos do extremismo da direita e da necessidade actual de conter a ideologia islâmica não com violência, mas com ideias democráticas e melhores”, esclareceu Tommy Robinson, cujo verdadeiro nome é Stephen Yaxley-Lennon, através de um comunicado de imprensa da Quilliam.

“Considerei esta opção durante muito tempo porque reconheço que, apesar de as manifestações nos terem trazido a este ponto, elas já não produtivas”, justificou Tommy Robinson, cuja saída foi também acompanhada pela do co-fundador da EDL, Kevin Carroll.

Uma das responsáveis pela Quilliam Foundation, Maajid Nawaz, felicitou a decisão. “Fomos capazes de mostrar que o Reino Unido está unido no combate ao extremismo, independentemente das visões políticas e esperamos continuar a apoiar o Tommy e o Kevin na sua jornada contra o islão radical e o extremismo neo-nazi”, afirmou, citada pelo The Guardian.

A edição britânica do Huffington Post chamava a atenção para o cepticismo com que a decisão do líder da EDL foi encarada pela opinião pública. “Genuinamente confuso, será que AKA Tommy Robinson está a deixar a EDL para ter melhor aspecto ou para deixá-los com melhor aspecto?”. “Tommy Robinson deixa a EDL chamando-a ‘extremista’?! Numa dimensão paralela, Hitler deixa os Nazis por ‘irem longe de mais às vezes’”, reagiam assim alguns utilizadores do Twitter.

O próprio Tommy Robinson reagiu através da mesma rede social: “O dia mais difícil da minha vida! Quero agradecer aos apoiantes da EDL pelas suas mensagens de apoio. Para mim, este é um passo em frente e não atrás”.

É com alguma cautela que a organização contra o extremismo Hope Not Hate reage ao abandono dos líderes da EDL. “Apenas a completa renúncia à violência e ao ódio que os líderes da EDL promoveram, e um afastamento da retórica anti-muçulmana que eles apoiaram, serão suficientes para os muitos milhares que sofreram com as acções feias da EDL nos últimos três anos”, justificou o director da organização Nick Lowles.

A possibilidade de que Robinson possa vir a tentar formar uma nova organização de extrema-direita, livre da carga negativa associada à EDL, foi aflorada num artigo de opinião do jornalista Sunny Hundal publicado no The Guardian. "Robinson sempre generalizou acerca dos muçulmanos, dizendo que quer impedi-los de entrar no Reino Unido e colocando a suspeita e o escrutínio em cima deles. Terá ele mudado essa visão? Não parece. Irá ele entrar numa campanha contra o velho EDL e o seu extremismo? Também parece improvável", observou Hundal.

Robinson e Carroll vão a julgamento no dia 16 de Outubro por terem alegadamente desobedecido a uma proibição de manifestações no local da morte do soldado Rigby.

Há cerca de um ano, o líder da EDL mostrava vontade de transformar a organização num partido político e apresentar candidatos ao Parlamento Europeu. A Hope Not Hate estima que existam entre 500 e 1.500 militantes activamente empenhados no EDL actualmente.

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