Grécia abandona recessão com crescimento de 0,6% em 2014

O país deverá fechar o próximo ano com um excedente orçamental primário (sem os custos do serviço da dívida) de 1,6% do produto interno bruto, segundo a proposta de Orçamento de Estado para 2014

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A proposta de Orçamento de Estado apresentada esta segunda-feira pelo Governo grego prevê que o país deixe de estar em recessão no próximo ano, com um crescimento de 0,6% na geração de riqueza, e que feche o exercício orçamental com um excedente primário (sem os custos associados ao serviço da dívida) equivalente a 1,6% do produto interno bruto (PIB).

Se conseguir este saldo positivo nas contas públicas, o Governo de Antonis Samaras irá conseguir algo que já não acontecia há dez anos. Contabilizando o serviço da dívida, o défice orçamental da Grécia deverá ser, em 2014, de 2,4% do PIB, ou seja, ficará já dentro dos parâmetros de estabilidade orçamental definidos pela União Europeia.

O cenário optimista para o próximo exercício orçamental foi traçado esta segunda-feira pelo ministro-adjunto das Finanças grego. Na apresentação do documento, Christos Staikouras afirmou que, nos últimos três anos, “a Grécia viveu sob uma dolorosa recessão, com um nível de desemprego sem precedentes. Mas os sacrifícios começam a dar frutos, evidenciando os primeiros sinais de uma saída efectiva da crise”.

Nas ruas, este nível de optimismo não tem seguidores. O dono de um quiosque ouvido pela agência Reuters afirmava na manhã desta segunda-feira que já “ninguém acredita nos políticos. Tudo aquilo que nos foi dito provou-se que estava errado". Yorgos Dedousis acrescentou que, “todos os dias, passam pessoas pelo quiosque a dizer que têm fome. O que é que mudou? Enquanto estivermos sob intervenção, continuaremos a ter problemas”.

O quadro cor-de-rosa parece, de facto, soar um pouco desajustado num país que já foi resgatado duas vezes pelos credores internacionais (um pacote global de 240 mil milhões de euros) e que está na iminência de ter de pedir uma ajuda suplementar, como muitos dos parceiros europeus já confirmaram.

O Governo está, também confiante que os seus financiadores aceitarão novas extensões das maturidades dos empréstimos e um abatimento das taxas de juro que lhes estão associadas, algo que fica facilitado se o país conseguir apresentar, de facto, um excedente orçamental sólido.

Desde que a crise emergiu na Grécia, a economia do país encolheu cerca de 25%, fruto de um rigoroso plano de austeridade imposto pelos credores internacionais. Redução de funcionários públicos e nas remunerações que lhes são pagas, cortes profundos nos gastos com saúde, educação e forças armadas, fim dos privilégios concedidos pelo Estado a muitos sectores da sociedade, aumentos de impostos são algumas das receitas aplicadas à Grécia nos últimos três anos.

A hipótese de um quadro de crescimento de 0,6% no próximo ano será, por isso, conseguido essencialmente à custa de um aumento do investimento empresarial e do nível de exportações, com o sector do turismo a dar o principal contributo.

Este desempenho não evitará que a taxa de desemprego se mantenha num nível muito alto (a recuar ligeiramente para perto dos 26%) e que o nível do endividamento do país continue a rondar os 175% do produto interno bruto.

“A chave é que, enquanto as coisas vão melhorando, ele [gregos] estão a fazê-lo a partir de um nível muito baixo. A Grécia irá continuar a necessitar de ajuda externa”, afirmou à Reuters Ban May, analistas na firma Capital Economics, que tem sede em Londres.

 

 

 

 

 

   

 
 

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