Síria entregou aos russos provas sobre uso de armas químicas pela oposição

Vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo considerou relatório da ONU "politizado” e “tendencioso".

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Combatentes da oposição a Bashar al-Assad Ammar Abdullah/Reuters

A Síria deu à Rússia "provas" sobre o uso de armas químicas por parte da oposição, anunciou nesta quarta-feira o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Riabkov, que considerou que o relatório das Nações Unidas sobre o tema está "politizado e é tendencioso".

O relatório concluiu que foram usadas armas químicas na guerra síria e debruça-se sobre o ataque de Agosto nos arredores de Damasco em que terão morrido mais de 1400 pessoas, muitas delas crianças. O relatório não atribuiu culpas claramente a um dos lados do conflito - não era esse o mandato dos investigadores de armas químicas.

Mas o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, não hesitou em dizer que foi cometido "um crime de guerra". Estados Unidos, França e Reino Unido, analisando os pormenores técnicos do relatório, atribuíram claramente a responsabilidade do ataque, afirmaram claramente que, pelo tipo de armamento usado, pela trajectória seguida pelos projécteis usados para o bombardeamento com gás sarin dos subúrbios de Damasco na madrugada de 21 de Agosto é indesmentível que as tropas de Bashar al-Assad estão por trás do ataque. 

A Rússia, no entanto, recusa-se a aceitar esta leitura. Riabkov denunciou o relatório, que considerou ter manipulado as provas para apontar a culpa a um dos lados do conflito que dura há já dois anos e meio — em guerra estão o Exército governamental e a oposição armada, que tenta derrubar o regime, tendo-se juntado à guerra civil milícias com uma grande quantidade de estrangeiros, com objectivos distintos (islamistas, por exemplo).

O vice-ministro russo disse que os inspectores da ONU só verificaram as provas relativas ao ataque de 21 de Agosto e ignoraram os outros três ataques com armas químicas que aconteceram antes dessa data. O Governo sírio, disse, tem provas materiais sobre estes ataques anteriores que atribuem a responsabilidade à oposição. Os inspectores da ONU frisaram sempre, no entanto, que querem voltar à Síria para investigar outros locais onde houve denúncias de ter havido ataques químicos.

A Síria aceitou entregar as armas químicas para destruição, de acordo com um plano russo que impediu uma intervenção punitiva americana contra o Governo de Assad. Mas o chefe da missão de inspectores da ONU, Ake Sellstrom, disse à BBC que será muito difícil encontrar e destruir o arsenal químico do Governo sírio. Esse trabalho, explicou, dependerá da vontade de cooperar e negociar do Governo e da oposição. "Vai ser um trabalho de muito stress", disse.
 
 

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