Gia Coppola a concorrer no campo da tia Sofia

Palo Alto anuncia a chegada de uma nova realizadora.

Fotogaleria
Gia Coppola em Veneza
Fotogaleria
Daniel Radcliffe, ex Harry Potter, em Veneza

O problema com Terry Gillian é que, mesmo despertando a simpatia por um bricabraque teatral de fábulas e distopias (cortesia também dos magros orçamentos), os seus filmes parecem ser feitos com os restos de sonhos que os outros filmes expeliram.

Matéria que Gilliam não transforma — o seu suposto "visionarismo" parece não ser mais do que uma ilusão de teatro de feira. No fundo: e se tudo tivesse de acontecer no âmbito de um episódio dos Monthy Phyton, seria essencialmente diferente, mudaria alguma coisa? The Zero Theorem (competição), com Christoph Waltz, Matt Damon, Tilda Swinton, e quatro anos depois de Parnassus, não muda nada.

Como Kill your Darlings, de John Krodikas (Giornate degli autori), nada acrescenta ao retrato congelado e educativo do género "filme sobre gente famosa antes de ser famosa". No caso, a beat generation de Allen Ginsberg (Daniel Radcliffe), William Burroughs (Ben Foster) e Jack Kerouac (Jack Huston). (Mas ao menos aqui há energia sexual, o que Walter Salles tinha sido incapaz de capturar em On the Road, 2012). No meio deles, e no meio da Columbia University, Lucien Carr (Dane DeHaan), que os apresentou. E que cometeu um crime, supostamente ao resistir aos avanços sexuais de David Kammerer (Michael C. Hall). Esse crime terá sido influente no clique literário da beat: Kerouac e Burroughs colaboraram num livro, em 1945, E os Hipopótamos Cozeram nos seus Tanques, contando essa história.

Cabe-lhe demonstrar o que pode acrescentar: Gia Coppola, sobrinha de Sofia, neta de Francis (é filha de Gian Carlo Coppola, que desapareceu num trágico acidente de barco; Gia nasceu depois do pai ter morrido). Começa, é a sua estreia na longa-metragem, com Palo Alto (secção Orizzonti), um cortejo, que se reconhece de há alguns filmes a esta parte, feito com jovens ricos, famosos e perdidos, na área de Los Angeles. Adapta um livro de contos de James Franco (esse mesmo, que tem um papel no filme).

As comparações com o percurso da tia Sofia começaram, por causa de As Virgens Suicidas. Mas Gia não cria uma bolha atmosférica que suspende a gravidade. Pelo contrário, até começou no sítio onde a tia só agora chegou com The Bling Ring. E o desencontro de empatias, por exemplo, é a matéria aqui, delicada e simultaneamente vigorosa. Ficamos à espera do que Gia possa acrescentar.
 
 

Sugerir correcção
Comentar