Dilma denuncia "preconceitos" contra os médicos cubanos

A receita da Presidente para remendar falhas dos serviços públicos de saúde suscitou uma revolta da classe brasileira

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O ministro da Saúde brasileiro, Ueslei Marcelino, com os médicos cubanos em Fortaleza Ueslei Marcelino/AFP

A Presidente brasileira, Dilma Rousseff, denunciou ontem o “imenso preconceito” dos médicos brasileiros contra os seus confrades cubanos, recrutados em grande número pelo Governo de Brasília para colmatar as faltas no sector público.

Abrir as portas a médicos estrangeiros foi a resposta a uma das queixas feitas pelo povo que inundou as ruas em Junho. Na semana passada começaram a chegar: há portugueses e de outras nacionalidades, mas muitos cubanos; cerca de 4000. “Vão trabalhar onde os médicos daqui não querem trabalhar, que são as regiões da Amazónia, do interior do Brasil e as periferias das regiões metropolitanas”, explicou a Presidente.
A ideia foi muito mal recebida pelos profissionais brasileiros, que se manifestaram no início de Julho, recorda a AFP. Na terça-feira à noite, dezenas de médicos brasileiros apuparam colegas estrangeiros, na sua maioria cubanos, à saída de um seminário de adaptação em Fortaleza, e alguns foram agredidos. As imagens deste acontecimento correram pelas redes sociais e causaram a indignação de muitos brasileiros.
Ainda assim, na terça-feira, a Federação Nacional dos Médicos, uma organização sindical, pediu à justiça federal que investigasse quais as condições de trabalho e salariais destes médicos estrangeiros.
“Os médicos cubanos têm estatuto próprio”, disse a Presidente Rousseff. Recebem uma parte do salário no Brasil, afirmou. Mas outra parte, a quantia que recebiam em Cuba, “continuará sendo paga às famílias deles”. “Então, a forma de pagamento dos médicos cubanos é diferente das demais.” Se o Governo cubano fica com alguma parte do ordenado destes médicos, a Presidente brasileira não esclareceu, sublinha o jornal Folha de São Paulo. “Mas, de qualquer jeito, todos os médicos estrangeiros recebem uma bolsa de dez mil reais [cerca de 3140 euros] mais ajuda de custo”, disse.

Em Maio, Cuba tinha 38.868 trabalhadores de saúde no estrangeiro, dos quais 15.407 médicos, diz a AFP.

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