Café pode ser nocivo para o desenvolvimento cerebral

Estudo feito em fêmeas de rato grávidas mostra que cafeína causa maior susceptibilidade para epilepsia e problemas de memória dos filhotes.

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Os ratos fêmea tinham o equivalente a três chavenas de café por dia Adriano Miranda (arquivo)

A cafeína pode ter efeitos negativos no desenvolvimento do cérebro dos mamíferos durante a gravidez e altura da lactação, mostra um estudo feito por uma equipa internacional com participação de investigadores portugueses. O resultado das experiências, feitas em ratos, foi publicado na revista Science Translational Medicine.

“A equipa avaliou o impacto [do café] durante o período de gestação e descreveu, pela primeira vez, os efeitos nocivos do consumo de cafeína (em ratos fêmeas) durante a gravidez, sobre o cérebro dos seus filhotes”, explica o comunicado de imprensa da Universidade de Coimbra (UC). A pesquisa, feita por investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular, da Faculdade de Medicina e da Faculdade de Ciências e Tecnologia, todos da UC, envolveu ainda cientistas da Alemanha e da Croácia.

Para avaliar os efeitos da cafeína, os investigadores deram a fêmeas de ratos grávidas o equivalente a três chávenas de café diárias, durante toda a gestação e até ao desmame das crias. Os ratinhos jovens “mostraram maior susceptibilidade de desenvolver epilepsia e, quando atingiram a idade adulta, detectaram-se problemas de memória espacial”, explica o coordenador da equipa portuguesa, Rodrigo Cunha.

Durante o desenvolvimento, a cafeína altera a migração e o posicionamento dos neurónios que libertam GABA, uma substância química importante para os processos de inibição no cérebro. “Estes neurónios formam-se numa região particular e depois migram para, entre outros lugares, o hipocampo, uma região do cérebro que desempenha um papel fundamental na formação da memória”, descreve Rodrigo Cunha.

“A cafeína influencia directamente a migração destes neurónios, por bloquear a acção de um receptor específico, chamado A2A, diminuindo a velocidade de migração dos neurónios. Assim, as células vão chegar ao seu destino mais tarde do que o previsto. Esta migração tardia afecta a construção do cérebro com efeitos observados após o nascimento (alterações da excitabilidade celular e aumento da susceptibilidade a episódios convulsivos) e, durante a vida adulta, perda de neurónios e défices de memória”, descreve o investigador.

Para Rodrigo Cunha, o estudo “é a primeira demonstração dos efeitos nocivos da exposição à cafeína sobre o cérebro em desenvolvimento e, embora questione o consumo de cafeína por mulheres grávidas, é necessário realçar o cuidado em extrapolar os resultados obtidos em modelos animais para a população humana, sem ter em consideração as diferenças no desenvolvimento do cérebro e da maturação entre as espécies”.
 
 

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